A Igreja "evangélica" brasileira possui uma triste mania : beber tudo que de podre teologicamente é vomitado no Brasil:"nascido na Alemanha,envelhecido na Inglaterra e apodrecido nos EUA" como dizia meu velho professor de hermenêutica no Seminário Presbiteriano do Norte.
Como temos preguiça de ler,achamos lindo alguns peixes cheios de espinha e pouquíssima carne lançados em nossos púlpitos,que além da falta de originalidade é vergonhosamente bebido em outras fontes,mas pregado coo se fosse algo original.
Esta semana fomos atingidos com um discurso "novo" que agrada algumas massas,mas que tem origens nada salutares.
Vamos analisar as raízes desse discurso :
1. TEÍSMO ABERTO
INTRODUÇÃO
Este post aborda um problema teológico recentemente levantado nos
Estados Unidos e que agora também começa a penetrar nos círculos teológicos brasileiros. Trata-se do chamado “Teísmo Aberto” (“Open Theism”), que
tem mudado os paradigmas da teontologia historicamente aceita.
O post trata do fundamento sobre o qual se apóia o Teísmo Aberto (o conceito libertário de liberdade) e das conseqüências determinantes que esse libertarismo
traz para a teontologia: ele leva Deus a autolimitar-se, o que, por sua vez, afeta
o atributo da soberania divina quanto ao governo de Deus no mundo e na vida
dos indivíduos.
Esse libertarismo, e a conseqüente auto-limitação divina, afeta
a doutrina da providência e da presença do mal moral no mundo, fazendo com
que Deus corra riscos nessa teontologia. A auto-limitação divina também afeta
a sua onisciência, onipresença, imutabilidade e relacionalidade.
O Teísmo Aberto (Open Theism), movimento que hoje toma corpo no
evangelicalismo( termo usado para definir um evangelho que não é o bíblico) norte-americano, também é conhecido em alguns círculos
como Teísmo da Vontade Livre (Freewill Theism), Teologia Aberta (Open
Theology), Abertura de Deus (Openness of God), Neoteísmo (Neotheism) ou
mesmo Teologia Relacional (Relational Theology).
O nome “Teísmo Aberto” deriva da afirmação de que o próprio Deus
está aberto para novas experiências, incluindo a experiência de aprender sobre
os eventos progressivos da história do mundo, à medida que se manifestam.
Quando tratamos de “Teísmo” estamos tratando de Deus, de como o estudamos e o conhecemos. Esse não é um assunto periférico na teologia, mas diz
respeito ao cerne da fé cristã, porque o conhecimento de Deus tem a ver com a
vida eterna (João 17.3).
Se as nossas idéias sobre Deus não forem corretas, então
todos os outros aspectos de nossa teologia certamente estarão errados. É
extremamente importante o que uma pessoa crê sobre Deus, pois o seu pensamento sobre Deus vai determinar como ela vê todo o universo ao seu redor.
O que alguns "teólogos" estão fazendo é falar da criação,sem dar um conceito do que pensam de Deus,então por detrás de lindas palavras na vida social e política da humanidade,estão conceitos com "requintes de crueldade" sobre a pessoa de Deus (Teontologia),que põe em dúvida os atributos divinos.
No ensino do Teísmo Aberto, Deus é limitado no seu conhecimento das
coisas futuras, e o futuro permanece aberto, isto é, sem definição prévia da
parte de Deus. Essa visão torna Deus mais aberto, mais acessível e mais pessoal, um Deus mais parecido com o que é revelado nas Escrituras, segundo o
entendimento dessa corrente.( vejam o perigo)
Quando tratamos do Teísmo Aberto, estamos falando de um conceito a
respeito da realidade, e especialmente do futuro. O Teísmo Aberto nasceu formalmente com o livro The Openness of God, publicado em 1994 pela
InterVarsity Press. A intenção dos autores foi rever o conceito clássico sobre
Deus, usando textos da Escritura para questionar o entendimento tradicional
do Ser Divino.(Alguns colegas meus de seminário estão indo por essa linha)
Desde a infância aprendemos as definições do Catecismo sobre Deus. Aprendemos que Deus é todo-poderoso, que conhece tudo, que vê todas as
coisas e que as entende plenamente. Herdamos uma preciosa teologia de nossos antepassados na fé, uma teologia que enfatiza a soberania divina, o seu
controle sobre o universo e sobre a vida humana. Aprendemos que todas as
coisas têm um fim previamente determinado e que nada é sem propósito
debaixo do sol.
( Quem foi criado em berço reformado conhece muito a perguntinha feita na Escola Dominical e no culto doméstico : "Quem é Deus?" Pergunta esta que os adultos de hoje não sabem a resposta,quanto mais as crianças que nada mais aprendem de Bíblia e doutrina)
Esse é o ensino geral do Teísmo Clássico.
Todavia, nos últimos anos esse ensino tem sido questionado pelo Teísmo Aberto, pois esses teístas afirmam que os conceitos dos teístas clássicos
sobre Deus são mais um produto de abstrações filosóficas do que dos ensinos da Escritura.
Segundo eles, o Deus da Escritura assume os riscos de criar
seres livres porque estes cooperam com Deus em seus desígnios, alvos e
propósitos. Deus não faz nada sozinho e o seu entendimento das coisas que
estão por acontecer depende das ações livres dos homens.
Em resumo, o conceito que temos sobre Deus afeta enormemente a
nossa cosmovisão. Conseqüentemente, quando vemos surgir no horizonte uma corrente de pensamento esposada por teólogos conservadores que altera
o conceito historicamente abraçado a respeito de Deus, devemos nos preocupar sobremaneira.
O Teísmo Aberto tem se afastado significativamente da
teologia bíblica clássica e reformada no que diz respeito à antropologia e,
conseqüentemente, à teontologia, e essas questões devem nos deixar em estado de alerta.
Esse movimento tem invertido a ordem proposta por Calvino de
conhecermos primeiramente a Deus para depois conhecermos a nós próprios.
Na verdade, o Teísmo Aberto tem feito com que o conhecimento que temos
de nós mesmos defina não o nosso conhecimento de Deus, mas o que Deus
vem a ser e a fazer.
Mais do que os evangélicos brasileiros imaginam, o Teísmo Aberto tem
produzido muitas obras e feito uma reviravolta em muitas mentes evangélicas, sendo um movimento em expansão, especialmente no Estados Unidos. (Agora dando as caras no Brasil,mas sorrateiramente ele está aqui desde os idos de 90,jogados em pinceladas por esse teólogo em congressos famosos )
A mudança de paradigma no Teísmo Aberto é algo muito mais sério do
que apenas o aparecimento de um novo movimento.
"Esta não é apenas uma vívida nova versão da Teologia do Processo, uma teol ogia liberal, nem é meramente uma vívida nova versão da Teologia
Arminiana Evangélica. Esses autores [Clark Pinnock, Richard Rice, John
Sanders, William Hasker e David Basinger, entre outros] demonstram pela
primeira vez um argumento racional biblicamente sustentado e fundamentado
no sentido de que o Deus da Bíblia está conosco no tempo e não conhece o
futuro em detalhe absoluto"
Essa mudança de paradigma se deve ao fato de os teólogos da abertura
de Deus acharem que o entendimento clássico da doutrina de Deus é
enganoso e inconsistente com a Escritura. No entendimento dos mesmos, a
teontologia clássica apresenta Deus como Motor Imóvel, estático e sem relacionamento ou interação com o mundo. Eles criticam a teontologia clássica,
dizendo que ela está profundamente enraizada na filosofia grega e que não
tem qualquer relevância para a vida de hoje.( Quando o teólogo afirma que não sabe o que é ortodoxia,ele mente pois sabe muito bem apenas não concorda com o Teísmo Clássico)
Os principais expoentes do Teísmo Aberto são homens bem preparados,
bem articulados, e praticamente todos afirmam crer na inerrância das
Escrituras. A linha de frente do movimento é composta de Clark Pinnock, Gregory A. Boyd e John Sanders, entre outros.
Não é novidade que alguns teólogos enveredem por caminhos estranhos
à fé histórica, porque isso sempre aconteceu. Todavia, em virtude da intensa
comunicação que caracteriza o tempo presente, alguns autores e líderes bastante influentes nos círculos evangélicos dos Estados Unidos e de outros países têm sido influenciados pela nova visão de Deus apresentada pelo Teísmo
Aberto. Um deles é o prolífico escritor Phil Yancey (que tem várias obras
traduzidas para o português). Um outro autor influente que está sendo influenciado é Gilbert Bilezikian, o teólogo residente da Willow Creek Community Church, que, por sua vez, tem influenciado tremendamente muitos líderes da igreja contemporânea.
Dentro dos círculos ligeiramente reformados,
um teólogo que está alinhado com Bilezikian é Donald Bloesh. Gary Gilley
diz que “o perigo específico deste último grupo é que eles raramente admitem, se é que o fazem, sustentar convicções do Teísmo Aberto, mas esposam
essas idéias de um modo atraente (e.g., no popular livro de Yancey, Decepcionado com Deus)”.
No Brasil também existem pessoas influentes no meio evangélico que
estão absorvendo o Teísmo Aberto, aqui mais conhecido como Teologia
Relacional. Um deles é o renomado pastor da Assembléia de Deus Betesda
Ricardo Gondim,Kivtz de grande penetração no meio evangélico, que por meses
deixaram transparecer em seus sites as suas idéias como defensores do Teísmo
Aberto, e ainda escrevem em revistas cristãs evidenciando essa teologia.
RAÍZES DO TEÍSMO ABERTO
Clark Pinnock diz que na situação contemporânea “temos uma dívida
para com a tradição metodista [embora ele seja batista], para com a teologia da
renovação trinitária, incluindo o entendimento que Barth tem do Deus que age
com liberdade. Nós também valorizamos algumas coisas da obra de Hartshorn e
sobre os atributos de Deus, e antes dele a dos personalistas de Boston”. Portanto, o arminianismo foi ao mesmo tempo a base e o caminho por
meio do qual o Teísmo Aberto se infiltrou na mente de vários teólogos.
Falando sobre o Teísmo Aberto, Pinnock diz que “eclesiasticamente ele é
uma variante do pensamento wesleyano/arminiano”, de tradição não-determinista.
"O teísmo aberto ecoa o pensamento wesleyano/arminiano que influencia
grandes segmentos do evangelicalismo. Esse modo de pensar tem contribuído muito para a história da doutrina de Deus. Mais significativo ainda é o fato
de que ele alavancou a reabilitação de duas verdades centrais, a vontade salvífica e universal de Deus e a natureza relacional de Deus. Armínio fez um
modesto começo quando alterou o teísmo reformado por meio de suas percepções a respeito da auto-limitação divina e quando disse que o determinismo não era sugerido pela onisciência divina, porque os próprios eventos futuros são a causa do conhecimento que Deus tem deles. Esse foi um começo no
caminho correto"
Na verdade, o Teísmo Aberto é filho do arminianismo evangélico, mas
levado às últimas conseqüências. Todavia, não podemos simplesmente dizer
que todo arminiano é defensor do Teísmo Aberto, mas sim que todos os
defensores do Teísmo Aberto são arminianos e que foram além dos arminianos históricos em muitos pontos.
O Teísmo Aberto tem afinidade com o arminianismo de um lado e com
o Teísmo da Teologia do Processo, de outro.
À semelhança do arminianismo,
o Teísmo Aberto crê que o conhecimento de Deus é dependente das escolhas
humanas, mas, em contraste com o arminianismo, o Teísmo Aberto rejeita a
idéia de que Deus tenha um conhecimento exaustivo das coisas. O arminianismo clássico nunca sustentou essa visão do futuro aberto.
O LIBERTARISMO DO TEÍSMO ABERTO
O Teísmo Aberto às vezes é identificado com o Free Will Theism
(“Teísmo do Livre Arbítrio”, ou preferencialmente “Teísmo da Vontade
Livre”), porque ele enfatiza a preponderância do libertarismo que ensina que
a liberdade humana determina o acontecimento dos eventos futuros.
Clark
Pinnock, o mais conhecido expoente do Teísmo Aberto, afirma categoricamente que, “teologicamente, o teísmo aberto é uma versão do teísmo da vontade livre”.
Esse movimento filosófico e teológico tem influenciado sobremaneira o pensamento de alguns filósofos e teólogos da geração atual. Entre
os filósofos, poderíamos citar Alvin Plantinga, de origem reformada e atualmente professor na Universidade Notre Dame.
Embora o libertarismo tenha
o seu nascedouro na filosofia humana (porque não tem fundamento na
Escritura), os mais afetados em termos práticos são os teólogos e, conseqüentemente, muitos setores da igreja cristã.
Definição de Liberdade Libertária
Parece redundância falar em liberdade libertária. A razão é que todos os
movimentos, mesmo os de ênfase determinista, crêem que o ser humano possui algum tipo de liberdade. Portanto, liberdade libertária é um tipo de liberdade pregada pelos arminianos e defensores do Teísmo Aberto.
Não há muita preocupação no libertarismo em definir o conceito de
liberdade. Os seus proponentes simplesmente a pressupõem. Todavia, alguns
escritores contemporâneos dão alguma noção do seu libertarismo, que é
definido de forma ampla, sem levar em conta a conotação teológica, sendo,
portanto, defeituoso. Além disso, eles não fornecem nenhum argumento
bíblico de peso que justifique o seu libertarismo. O conceito de liberdade
libertária está pressuposto na mente das pessoas. Ninguém tem muita coragem de dizer o que é essa “vontade livre”, com receio de não poder dar uma
definição aceitável da mesma. É uma pena que muitos simpatizantes do libertarismo pressuponham a “vontade livre” sem qualquer reflexão,nenhum deles vai às últimas conseqüências para defini-la. Aliás, quando
alguma coisa está pressuposta, poucos se importam em defini-la e em justificá-la. O fato mais estarrecedor é que a chamada vontade livre, ou liberdade
libertária, não pode ser provada filosófica ou biblicamente. As pessoas só
podem pressupô-la.
"se [o livre arbítrio] não pode ser provado, ele deve ser assumido ou tratado
como se fosse auto-evidente. Em particular, deve ser reconhecido como vindo
de fora da Bíblia. Se ele é considerado auto-evidente, uma pressuposição privilegiada controlará o processo total de interpretação."
Essa primeira parte é apenas um rápido resumo da selêuma que é essa teologia
2. TEOLOGIA RELACIONAL
INTRODUÇÃO
A Teologia Relacional é uma nova perspectiva hermenêutica sobre Deus que se propõe a corrigir as pretensas distorções do teísmo clássico.
Ela é apresentada como sendo uma proposta essencialmente prática e bíblica, elaborada no sentido de resolver as supostas contradições resultantes da crença em um Deus soberano em meio a uma realidade marcada pelo sofrimento.
Em síntese, as propostas da Teologia Relacional são muito parecidas com aquelas do Teísmo Aberto no contexto evangélico norte-americano.
Esta postagem objetiva empreender esta tarefa.
1.Sua primeira parte analisa o desenvolvimento desse novo ensino e suas ligações com outras crenças defendidas por segmentos cristãos ao redor do mundo.
2.Depois, a postagem caminha no sentido de tentar compreender os principais pressupostos da Teologia Relacional e sua relação com o teísmo aberto.
3.Finalmente, é feita uma avaliação, à luz das Escrituras e da prática cristã, de alguns dos resultados dessa perspectiva relacional sobre Deus.
CONTEXTUALIZAÇÃO
No Brasil alguns consideram a Teologia Relacional como "passé"( fora de moda ), uma proposta que surgiu, atraiu poucos, teve alguns de seus pontos controversos atacados e, aparentemente, se retraiu.
Enganam-se, porém, aqueles que pensam que esse ensino foi definitivamente sepultado ou que seus efeitos tenham perdido qualquer eficiência.
Os partidários da perspectiva em questão continuam divulgando suas premissas por meio de palestras e diversos eventos religiosos. Além do mais, com o avanço da tecnologia, os canais tradicionalmente utilizados para difusões teóricas (livros, parlamentos, artigos acadêmicos, etc.) passaram a contar também com os fóruns de discussão on-line.
Logo, o grau de aceitação de um novo ensino não pode mais ser simplesmente medido pela revisão da literatura relacionada ao assunto, pois aquilo que parece ultrapassado para alguns neste setor pode estar em plena ebulição para outros no universo on-line. ( Aqui no grupo Calvinistas há vários adeptos)
Finalmente, é sempre prudente considerar o fato de que os novos ensinamentos geralmente possuem “uma natureza evolutiva”, o que requer contínuas avaliações e respostas aos mesmos ( Uma evidência clara desse fato pode ser encontrada na publicação do livro de Darci Dusilek sobre o conhecimento de Deus e no reavivamento do debate através de um artigo de Ricardo Gondim Rodrigues no qual ele se propõe a definir esse ensino e refutar algumas acusações feitas ao mesmo.)
A Teologia Relacional é uma nova perspectiva hermenêutica sobre Deus que se propõe a corrigir as pretensas distorções do teísmo clássico, supostamente causadas pela influência da filosofia platônica no cristianismo importada por Agostinho de Hipona (354-430).
Segundo entende um dos simpatizantes desse ensino, “muitos dos dogmas do teísmo clássico... não têm sua origem na Bíblia ou na tradição dos apóstolos, mas são frutos de uma assimilação sacrílega de conceitos importados da filosofia grega”.
Neste sentido, a teologia relacional é apresentada com tendo uma proposição essencialmente prática e bíblica, elaborada “no sentido de resolver a contradição entre a nossa vida devocional diária e a teologia clássica”.
O principal articulador dessa teologia no Brasil, o pastor da Igreja Assembléia de Deus Betesda, Ricardo Gondim Rodrigues, ilustra a relevância desse ensino da seguinte forma:
"Na teologia clássica o futuro já aconteceu, não apenas por determinação de Deus, que exaustivamente decretou que todas as coisas (boas e ruins) acontecessem, mas também porque ele em sua onisciência já sabe de tudo o que vier a acontecer como já “acontecido”
... Assim, não sabemos como nos comportar direito quando oramos e nem sabemos como agir quando coisas ruins acontecem. Quando algum mal acontece, dizem-nos que a vontade de Deus nunca é frustrada, e que ele tem uma agenda secreta que ainda não entendemos. Tentam nos confortar afirmando que precisamos apenas acreditar que ele tem o melhor para nós... Assim, vivemos uma esquizofrenia espiritual tremenda, cremos em verdades dogmáticas e agimos contrariamente a elas."
A Teologia Relacional traz consistência à nossa espiritualidade, pois reforça a nossa compreensão paternal de Deus, lança luz sobre nossa imensa responsabilidade e nosso infinito privilégio de cooperarmos com o Criador.
Somos artesãos do futuro. Numa Teologia Relacional o futuro inexiste e Deus nos chama para sermos parceiros da sua construção.
Resumindo, na perspectiva relacional o futuro está em aberto para ser construído, em conjunto, por Deus e pelo ser humano. Logo, ninguém, nem mesmo Deus, pode conhecer exaustivamente o futuro, pois ele ainda não existe e, por amor às suas criaturas, o Altíssimo decidiu limitar-se quanto ao conhecimento a este respeito e sujeitar-se a riscos e surpresas advindas dessa construção em parceria com o ser humano livre.
Vários pressupostos da Teologia Relacional têm sido denunciados por suas fraquezas filosóficas, imprecisões históricas e superficialidades bíblicas.
Contudo, poucos a têm analisado em sua conexão com o teísmo aberto, bem como em sua proposta mais básica: a de ser uma contribuição prática e relevante para o cristianismo contemporâneo, livrando os cristãos da suposta “esquizofrenia espiritual” que os prende diariamente.
A Teologia Relacional é uma nova perspectiva hermenêutica sobre Deus que se propõe a corrigir as pretensas distorções do teísmo clássico.
Ela é apresentada como sendo uma proposta essencialmente prática e bíblica, elaborada no sentido de resolver as supostas contradições resultantes da crença em um Deus soberano em meio a uma realidade marcada pelo sofrimento.
Em síntese, as propostas da Teologia Relacional são muito parecidas com aquelas do Teísmo Aberto no contexto evangélico norte-americano.
Esta postagem objetiva empreender esta tarefa.
1.Sua primeira parte analisa o desenvolvimento desse novo ensino e suas ligações com outras crenças defendidas por segmentos cristãos ao redor do mundo.
2.Depois, a postagem caminha no sentido de tentar compreender os principais pressupostos da Teologia Relacional e sua relação com o teísmo aberto.
3.Finalmente, é feita uma avaliação, à luz das Escrituras e da prática cristã, de alguns dos resultados dessa perspectiva relacional sobre Deus.
CONTEXTUALIZAÇÃO
No Brasil alguns consideram a Teologia Relacional como "passé"( fora de moda ), uma proposta que surgiu, atraiu poucos, teve alguns de seus pontos controversos atacados e, aparentemente, se retraiu.
Enganam-se, porém, aqueles que pensam que esse ensino foi definitivamente sepultado ou que seus efeitos tenham perdido qualquer eficiência.
Os partidários da perspectiva em questão continuam divulgando suas premissas por meio de palestras e diversos eventos religiosos. Além do mais, com o avanço da tecnologia, os canais tradicionalmente utilizados para difusões teóricas (livros, parlamentos, artigos acadêmicos, etc.) passaram a contar também com os fóruns de discussão on-line.
Logo, o grau de aceitação de um novo ensino não pode mais ser simplesmente medido pela revisão da literatura relacionada ao assunto, pois aquilo que parece ultrapassado para alguns neste setor pode estar em plena ebulição para outros no universo on-line. ( Aqui no grupo Calvinistas há vários adeptos)
Finalmente, é sempre prudente considerar o fato de que os novos ensinamentos geralmente possuem “uma natureza evolutiva”, o que requer contínuas avaliações e respostas aos mesmos ( Uma evidência clara desse fato pode ser encontrada na publicação do livro de Darci Dusilek sobre o conhecimento de Deus e no reavivamento do debate através de um artigo de Ricardo Gondim Rodrigues no qual ele se propõe a definir esse ensino e refutar algumas acusações feitas ao mesmo.)
A Teologia Relacional é uma nova perspectiva hermenêutica sobre Deus que se propõe a corrigir as pretensas distorções do teísmo clássico, supostamente causadas pela influência da filosofia platônica no cristianismo importada por Agostinho de Hipona (354-430).
Segundo entende um dos simpatizantes desse ensino, “muitos dos dogmas do teísmo clássico... não têm sua origem na Bíblia ou na tradição dos apóstolos, mas são frutos de uma assimilação sacrílega de conceitos importados da filosofia grega”.
Neste sentido, a teologia relacional é apresentada com tendo uma proposição essencialmente prática e bíblica, elaborada “no sentido de resolver a contradição entre a nossa vida devocional diária e a teologia clássica”.
O principal articulador dessa teologia no Brasil, o pastor da Igreja Assembléia de Deus Betesda, Ricardo Gondim Rodrigues, ilustra a relevância desse ensino da seguinte forma:
"Na teologia clássica o futuro já aconteceu, não apenas por determinação de Deus, que exaustivamente decretou que todas as coisas (boas e ruins) acontecessem, mas também porque ele em sua onisciência já sabe de tudo o que vier a acontecer como já “acontecido”
... Assim, não sabemos como nos comportar direito quando oramos e nem sabemos como agir quando coisas ruins acontecem. Quando algum mal acontece, dizem-nos que a vontade de Deus nunca é frustrada, e que ele tem uma agenda secreta que ainda não entendemos. Tentam nos confortar afirmando que precisamos apenas acreditar que ele tem o melhor para nós... Assim, vivemos uma esquizofrenia espiritual tremenda, cremos em verdades dogmáticas e agimos contrariamente a elas."
A Teologia Relacional traz consistência à nossa espiritualidade, pois reforça a nossa compreensão paternal de Deus, lança luz sobre nossa imensa responsabilidade e nosso infinito privilégio de cooperarmos com o Criador.
Somos artesãos do futuro. Numa Teologia Relacional o futuro inexiste e Deus nos chama para sermos parceiros da sua construção.
Resumindo, na perspectiva relacional o futuro está em aberto para ser construído, em conjunto, por Deus e pelo ser humano. Logo, ninguém, nem mesmo Deus, pode conhecer exaustivamente o futuro, pois ele ainda não existe e, por amor às suas criaturas, o Altíssimo decidiu limitar-se quanto ao conhecimento a este respeito e sujeitar-se a riscos e surpresas advindas dessa construção em parceria com o ser humano livre.
Vários pressupostos da Teologia Relacional têm sido denunciados por suas fraquezas filosóficas, imprecisões históricas e superficialidades bíblicas.
Contudo, poucos a têm analisado em sua conexão com o teísmo aberto, bem como em sua proposta mais básica: a de ser uma contribuição prática e relevante para o cristianismo contemporâneo, livrando os cristãos da suposta “esquizofrenia espiritual” que os prende diariamente.
Esta postagem objetiva empreender esta
tarefa.
1. COMO SE DESENVOLVEU A TEOLOGIA RELACIONAL
Uma das primeiras tarefas na análise de um movimento, social ou religioso, é a tentativa de se compreender sua origem e evolução.
Um dos problemas encontrados neste sentido é que o investigador pode acabar em um labirinto, dependendo do número de fontes usadas na reconstrução do movimento.
No caso da Teologia Relacional, ela aparenta ser simplesmente um desenvolvimento lógico do arminianismo, uma vez que representa o livre-arbítrio humano levado às últimas conseqüências.
Contudo, ela vai muito além do arminianismo ao defender uma reinterpretação teísta, limitando a onisciência de Deus e geralmente entendendo um aspecto do ato da encarnação ocorrido com a segunda pessoa da Trindade como uma característica do Deus Triúno.
Assim, é muito comum a ênfase sobre o Deus que se esvaziou para relacionar-se com o ser humano, sem uma clara distinção de quem se submeteu a tal processo e sem uma explicação clara de que antes da encarnação também havia relacionamento de Deus com o homem.
Como já foi observado, o termo “Teologia Relacional” começou a ser empregado no Brasil pelo pastor e escritor Ricardo Gondim Rodrigues, que propôs ousadamente um credo no qual Deus soberanamente decidiu abrir mão de parte de sua onipotência, quando criou seres à sua imagem e semelhança. Ele se tornou fraco porque quis abrir espaço para se relacionar conosco em amor.Além do mais, Gondim ainda defendeu a possibilidade de se ler a Bíblia com outros óculos além daqueles utilizados pelo teísmo clássico, pelos fundamentalistas ou pelos defensores de um “sistema fechado” de interpretação.(é o que Kivtz afirma também)
A proposta visava a leitura da Bíblia da mesma forma que faziam outros segmentos cristãos ao redor do mundo, os quais, segundo ele, eram constituídos por “pensadores e teólogos (que) procuram afastar-se do ‘Deus-potência’ concebido nos paradigmas medievais, para o ‘Deus-relacional’ e afetuoso que Jesus de Nazaré revelou aos homens”.(Kivtz afirma no vídeo que ele não sabe o que é ortodoxia kkkk sabe o que é amar)
Além do mais, Gondim insistiu que só é possível pensar em verdadeira relacionalidade se, em sua Graça, Deus conceder aos seres humanos liberdade real para cooperarem ou contrariarem a sua vontade para suas vidas.
Numa Teologia Relacional, Deus ama numa interação verdadeira com os seus filhos.
Com estes e outros artigos, algumas vezes publicados em revistas evangélicas ou somente postados no seu site pessoal, Gondim divulga algumas idéias sobre Deus que divergem daquelas defendidas pelo teísmo clássico. A esses novos conceitos ele, juntamente com um membro de sua igreja, chamou de Teologia Relacional,mas apenas é a mesma Teologia da Esperança.(Essa antiga,logo nada novo apenas rótulos novos)
A princípio, as idéias de Gondim pareciam limitadas aos seus escritos e discursos. Curiosamente, porém, noções semelhantes começaram a aparecer em outros setores, defendidas por líderes de diferentes segmentos evangélicos.
Bráulia Ribeiro, missionária da JOCUM e também articulista da revista Ultimato, esboçou sua preferência pela “limitação de Deus” para relacionar-se com seres humanos livres, mostrando-se disposta a aceitar, inclusive, uma redefinição da onisciência. Segundo ela, “se verdadeiro livre-arbítrio implica em uma definição diferente para a onisciência não me importa”.
Outro autor que tem expressado idéias semelhantes é o batista Darci Dusilek, o qual afirma: “Aquele que pensa que o destino de cada homem já está fixo e determinado de antemão se mostra estranhamente insensível ao clamor do coração e ao ritmo do pulso no Novo Testamento”.
Mais recentemente, Ed René Kivitz tem expressado sua proposta de uma reflexão teológica feita “de baixo para cima”, na qual deve ser deixado de lado “aquilo que Deus é em termos de sua perfeita natureza eterna, e focar sua atenção [a do teólogo] na maneira como Deus escolheu revelar e se relacionar com as pessoas na história”. Neste caso, os olhos do teólogo devem “deixar de lado a visão ideal e abstrata da filosofia, e se voltar para Jesus Cristo, suas ações e palavras, que revelam o Pai”. Aliás, em seu post sobre “teodicéia”, Kivitz propõe que a solução do problema do mal se encontra no fato de se “mudar o paradigma do pensamento que o criou”.
Segundo ele: Na verdade, “Deus não tinha escolha”. Ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança, deveria criá-lo livre. Desejando um relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a liberdade de responder voluntariamente ao seu amor, sob pena de ser um tirano que arrasta para sua alcova uma donzela contrariada. Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor dá liberdade para que o outro seja livre, inclusive para rejeitar o amor que se lhe quer dar.
No final do post Kivitz argumenta que “por esta razão Deus ‘se diminuiu’, esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos de onipotência-obediência, e se relaciona com a humanidade com base no amor.” Nota-se, assim, um linguajar e conceitos defendidos por Kivitz muito parecidos com aquilo que Gondim denomina teologia relacional.
Esses e outros buscam expressar as implicações lógicas do arminianismo que abraçaram, ou seja, a doutrina da “liberdade libertária”.
Alguns anos antes da Teologia Relacional começar a ter a sua divulgação no Brasil, um movimento evangélico norte-americano conhecido como Open Theism (Teísmo Aberto) agitava o protestantismo naquele país, causando a divisão de uma denominação, produzindo intensas lutas internas em um seminário batista e se tornando alvo de constantes debates nas reuniões da Evangelical Theological Society, até que os membros desta ameaçaram expulsar do seu rol aqueles que defendessem tal ensinamento.
As afirmações seguras de Gondim começam a ruir quando se observa que um dos principais defensores do Teísmo Aberto norte-americano, Clark H. Pinnock, declara: Enquanto focalizando o assunto da onisciência divina, não percamos de vista o fato de que nossa perspectiva nesse assunto é apenas uma faceta (e não a mais importante) de um modelo relacional mais amplo, ou seja, o relacionamento divino-humano.
Em outra ocasião, Clark Pinnock afirmou: “A versão do teísmo relacional chamada ‘teísmo aberto’ é uma teologia em busca de um Deus pessoa, que se encontra dinamicamente conectado ao mundo”.
Assim, Teísmo Aberto e Teologia Relacional estão, na concepção de Pinnock, intimamente conectados, pois o primeiro é apenas uma versão do segundo. Pode-se até afirmar que os neoteístas norte-americanos não fazem uso comum do termo Teologia Relacional em seus escritos, mas não se pode assegurar que o conceito seja totalmente desconhecido para eles.
Além do mais, Gondim parece ter se esquecido de que, mais recentemente, em uma correspondência eletrônica ao ilustrador Paulo Roberto Purim (que usa o nome de Paulo Brabo), postada em seu site pessoal, ele mesmo admitiu a proximidade das duas perspectivas teológicas, embora rejeitando a intensidade do debate teológico praticado pelos americanos.O próprio Paulo Brabo compreendeu a conexão entre os dois ensinos e em um de seus artigos admite que se trata de duas versões de uma mesma teologia.Por um determinado tempo também se veiculou na internet um site sobre “Calvinismo vs. Arminianismo”, em que artigos de Gondim e Gregory Boyd, um dos principais representantes do Teísmo Aberto norte-americano, dominavam o espaço reservado aos arminianos.
O problema é que os artigos de Boyd, traduzidos por Paulo César Antunes, eram divulgações de seus postulados do Teísmo Aberto.
Finalmente, os conceitos defendidos pela Teologia Relacional e o Teísmo Aberto parecem estar tão próximos que a Editora Cultura Cristã está prestes a lançar um livro onde os termos são intercambiáveis.
Assim, o difícil hoje em dia já não é mais estabelecer a conexão, mas negá-la. A verdade é que movimentos sociais e teológicos nunca são estanques, mas sempre dinâmicos e apresentam variações em contextos diferentes.
Todavia, ao se examinar o conteúdo e as propostas básicas desses movimentos nota-se que a diferença não é tão grande como muitos gostariam de acreditar. O próprio Gondim havia diagnosticado, há alguns anos, esse perigo com relação ao protestantismo brasileiro. Segundo elea igreja evangélica brasileira mostra-se muito vulnerável a falsas doutrinas... Faltam às igrejas referenciais históricos que as ajudem a permanecer no curso principal do cristianismo... A teologia brasileira sofre influências dos norte americanos.
1. COMO SE DESENVOLVEU A TEOLOGIA RELACIONAL
Uma das primeiras tarefas na análise de um movimento, social ou religioso, é a tentativa de se compreender sua origem e evolução.
Um dos problemas encontrados neste sentido é que o investigador pode acabar em um labirinto, dependendo do número de fontes usadas na reconstrução do movimento.
No caso da Teologia Relacional, ela aparenta ser simplesmente um desenvolvimento lógico do arminianismo, uma vez que representa o livre-arbítrio humano levado às últimas conseqüências.
Contudo, ela vai muito além do arminianismo ao defender uma reinterpretação teísta, limitando a onisciência de Deus e geralmente entendendo um aspecto do ato da encarnação ocorrido com a segunda pessoa da Trindade como uma característica do Deus Triúno.
Assim, é muito comum a ênfase sobre o Deus que se esvaziou para relacionar-se com o ser humano, sem uma clara distinção de quem se submeteu a tal processo e sem uma explicação clara de que antes da encarnação também havia relacionamento de Deus com o homem.
Como já foi observado, o termo “Teologia Relacional” começou a ser empregado no Brasil pelo pastor e escritor Ricardo Gondim Rodrigues, que propôs ousadamente um credo no qual Deus soberanamente decidiu abrir mão de parte de sua onipotência, quando criou seres à sua imagem e semelhança. Ele se tornou fraco porque quis abrir espaço para se relacionar conosco em amor.Além do mais, Gondim ainda defendeu a possibilidade de se ler a Bíblia com outros óculos além daqueles utilizados pelo teísmo clássico, pelos fundamentalistas ou pelos defensores de um “sistema fechado” de interpretação.(é o que Kivtz afirma também)
A proposta visava a leitura da Bíblia da mesma forma que faziam outros segmentos cristãos ao redor do mundo, os quais, segundo ele, eram constituídos por “pensadores e teólogos (que) procuram afastar-se do ‘Deus-potência’ concebido nos paradigmas medievais, para o ‘Deus-relacional’ e afetuoso que Jesus de Nazaré revelou aos homens”.(Kivtz afirma no vídeo que ele não sabe o que é ortodoxia kkkk sabe o que é amar)
Além do mais, Gondim insistiu que só é possível pensar em verdadeira relacionalidade se, em sua Graça, Deus conceder aos seres humanos liberdade real para cooperarem ou contrariarem a sua vontade para suas vidas.
Numa Teologia Relacional, Deus ama numa interação verdadeira com os seus filhos.
Com estes e outros artigos, algumas vezes publicados em revistas evangélicas ou somente postados no seu site pessoal, Gondim divulga algumas idéias sobre Deus que divergem daquelas defendidas pelo teísmo clássico. A esses novos conceitos ele, juntamente com um membro de sua igreja, chamou de Teologia Relacional,mas apenas é a mesma Teologia da Esperança.(Essa antiga,logo nada novo apenas rótulos novos)
A princípio, as idéias de Gondim pareciam limitadas aos seus escritos e discursos. Curiosamente, porém, noções semelhantes começaram a aparecer em outros setores, defendidas por líderes de diferentes segmentos evangélicos.
Bráulia Ribeiro, missionária da JOCUM e também articulista da revista Ultimato, esboçou sua preferência pela “limitação de Deus” para relacionar-se com seres humanos livres, mostrando-se disposta a aceitar, inclusive, uma redefinição da onisciência. Segundo ela, “se verdadeiro livre-arbítrio implica em uma definição diferente para a onisciência não me importa”.
Outro autor que tem expressado idéias semelhantes é o batista Darci Dusilek, o qual afirma: “Aquele que pensa que o destino de cada homem já está fixo e determinado de antemão se mostra estranhamente insensível ao clamor do coração e ao ritmo do pulso no Novo Testamento”.
Mais recentemente, Ed René Kivitz tem expressado sua proposta de uma reflexão teológica feita “de baixo para cima”, na qual deve ser deixado de lado “aquilo que Deus é em termos de sua perfeita natureza eterna, e focar sua atenção [a do teólogo] na maneira como Deus escolheu revelar e se relacionar com as pessoas na história”. Neste caso, os olhos do teólogo devem “deixar de lado a visão ideal e abstrata da filosofia, e se voltar para Jesus Cristo, suas ações e palavras, que revelam o Pai”. Aliás, em seu post sobre “teodicéia”, Kivitz propõe que a solução do problema do mal se encontra no fato de se “mudar o paradigma do pensamento que o criou”.
Segundo ele: Na verdade, “Deus não tinha escolha”. Ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança, deveria criá-lo livre. Desejando um relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a liberdade de responder voluntariamente ao seu amor, sob pena de ser um tirano que arrasta para sua alcova uma donzela contrariada. Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor dá liberdade para que o outro seja livre, inclusive para rejeitar o amor que se lhe quer dar.
No final do post Kivitz argumenta que “por esta razão Deus ‘se diminuiu’, esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos de onipotência-obediência, e se relaciona com a humanidade com base no amor.” Nota-se, assim, um linguajar e conceitos defendidos por Kivitz muito parecidos com aquilo que Gondim denomina teologia relacional.
Esses e outros buscam expressar as implicações lógicas do arminianismo que abraçaram, ou seja, a doutrina da “liberdade libertária”.
Alguns anos antes da Teologia Relacional começar a ter a sua divulgação no Brasil, um movimento evangélico norte-americano conhecido como Open Theism (Teísmo Aberto) agitava o protestantismo naquele país, causando a divisão de uma denominação, produzindo intensas lutas internas em um seminário batista e se tornando alvo de constantes debates nas reuniões da Evangelical Theological Society, até que os membros desta ameaçaram expulsar do seu rol aqueles que defendessem tal ensinamento.
As afirmações seguras de Gondim começam a ruir quando se observa que um dos principais defensores do Teísmo Aberto norte-americano, Clark H. Pinnock, declara: Enquanto focalizando o assunto da onisciência divina, não percamos de vista o fato de que nossa perspectiva nesse assunto é apenas uma faceta (e não a mais importante) de um modelo relacional mais amplo, ou seja, o relacionamento divino-humano.
Em outra ocasião, Clark Pinnock afirmou: “A versão do teísmo relacional chamada ‘teísmo aberto’ é uma teologia em busca de um Deus pessoa, que se encontra dinamicamente conectado ao mundo”.
Assim, Teísmo Aberto e Teologia Relacional estão, na concepção de Pinnock, intimamente conectados, pois o primeiro é apenas uma versão do segundo. Pode-se até afirmar que os neoteístas norte-americanos não fazem uso comum do termo Teologia Relacional em seus escritos, mas não se pode assegurar que o conceito seja totalmente desconhecido para eles.
Além do mais, Gondim parece ter se esquecido de que, mais recentemente, em uma correspondência eletrônica ao ilustrador Paulo Roberto Purim (que usa o nome de Paulo Brabo), postada em seu site pessoal, ele mesmo admitiu a proximidade das duas perspectivas teológicas, embora rejeitando a intensidade do debate teológico praticado pelos americanos.O próprio Paulo Brabo compreendeu a conexão entre os dois ensinos e em um de seus artigos admite que se trata de duas versões de uma mesma teologia.Por um determinado tempo também se veiculou na internet um site sobre “Calvinismo vs. Arminianismo”, em que artigos de Gondim e Gregory Boyd, um dos principais representantes do Teísmo Aberto norte-americano, dominavam o espaço reservado aos arminianos.
O problema é que os artigos de Boyd, traduzidos por Paulo César Antunes, eram divulgações de seus postulados do Teísmo Aberto.
Finalmente, os conceitos defendidos pela Teologia Relacional e o Teísmo Aberto parecem estar tão próximos que a Editora Cultura Cristã está prestes a lançar um livro onde os termos são intercambiáveis.
Assim, o difícil hoje em dia já não é mais estabelecer a conexão, mas negá-la. A verdade é que movimentos sociais e teológicos nunca são estanques, mas sempre dinâmicos e apresentam variações em contextos diferentes.
Todavia, ao se examinar o conteúdo e as propostas básicas desses movimentos nota-se que a diferença não é tão grande como muitos gostariam de acreditar. O próprio Gondim havia diagnosticado, há alguns anos, esse perigo com relação ao protestantismo brasileiro. Segundo elea igreja evangélica brasileira mostra-se muito vulnerável a falsas doutrinas... Faltam às igrejas referenciais históricos que as ajudem a permanecer no curso principal do cristianismo... A teologia brasileira sofre influências dos norte americanos.
Dessa forma, pode-se concluir que o surgimento da Teologia Relacional
aponta para a articulação de uma versão brasileira do Teísmo Aberto norte-americano.
Finalmente, há que se notar que por determinado tempo os proponentes do
Teísmo Aberto, nos Estados Unidos, ou os adeptos da Teologia Relacional, no
Brasil, procuraram reduzir as discussões relacionadas ao tema apresentando-as
como meras diferenças existentes entre o calvinismo e o arminianismo.
Neste sentido, os calvinistas foram retratados como aqueles que possuem uma visão da soberania de Deus que o coloca fora do tempo e do espaço, tornando-o autoritário, impassível (sem sentimentos) e distante.( Tenho que sorrir com tanta ignorância sobre o calvinismo ).Um Deus assim mais se parece com um demônio do que com o Deus de amor retratado na Bíblia.
Todavia, os conceitos sobre Deus defendidos tanto pelo Teísmo Aberto quanto pela Teologia Relacional são refutados até mesmo por representantes do arminianismo clássico. O arminianismo clássico nunca negou a onisciência divina. O próprio Jacó Armínio, o fundador do movimento, ensinava: O quarto decreto, salvar certas pessoas em particular e condenar outras, baseia-se na presciência de Deus.( só que presciência não é onisciência não é mesmo....)
A raiz desse erro é encontrada, especificamente, na negação da onisciência divina, baseada em uma objeção lógica que coloca a onisciência na contramão. Como conseqüência, temos o conceito de um Deus que, por não conhecer o futuro pode estar equivocado em suas expectativas e nem sempre sabe os resultados de suas decisões e ações.
Assim, reduzir os debates relacionados aos pressupostos do Teísmo Aberto (ou da Teologia Relacional) ao conflito entre calvinistas/arminianos, ou limitar o teísmo clássico ao calvinismo seria uma imprecisão histórica e uma injustiça para com os cristãos arminianos.
Os assuntos levantados por essa teologia contrariam não apenas os pontos fundamentais da fé reformada, mas algumas doutrinas essenciais defendidas por todos os ramos da igreja cristã.
Assim como ocorre com o teísmo aberto nos Estados Unidos, também aqui no Brasil a Teologia Relacional não é defendida por um grande número de teólogos, mas aqueles que a defendem, ou que por ela demonstram simpatia, são pessoas articuladas e influentes. Logo, os impactos de seus escritos e pronunciamentos no meio evangélico são consideráveis.
Além do mais, o assunto discutido por ela não é periférico, mas diz respeito ao próprio cerne da fé cristã.
Como corretamente argumenta Heber C. Campos: “Se nossas idéias sobre Deus não forem corretas, então todos os outros aspectos de nossa teologia certamente estarão errados”.
Há que se entender ainda que, assim como acontece com o teísmo aberto, também na Teologia Relacional “a teodicéia é a forma motora do movimento”.
Dessa forma, ainda que a discussão tenha sido iniciada no contexto evangélico, é natural esperar que ela se estenda além dos limites protestantes, pois afinal ela propõe uma redefinição do próprio entendimento cristão “clássico” sobre Deus.
Segundo Carson, esse novo ensino “redefine o Deus da Bíblia e da teologia de tal forma que ao final teremos um Deus totalmente diferente”.Tudo isto já representaria uma série suficiente de razões para preocupar também os representantes do protestantismo brasileiro.
Um aspecto importante a ser observado nos escritos dos proponentes da Teologia Relacional é o fato de que, na maioria das vezes, suas argumentações revelam um interesse mais acentuado na persuasão do leitor do que na clareza dos conceitos defendidos.
Algumas palavras até parecem ser propositadamente empregadas de modo a dificultar ao leitor a neutralidade necessária para uma análise abalizada.
Por exemplo, Gondim defende que “quando se discute sobre a relacionalidade de Deus precisamos vencer nossos paradigmas antigos:
"...simplesmente responder a essas questões [o problema do sofrimento] afirmando que tudo estava previsto na providência eterna, ou que é por causa do pecado de Adão, soa como uma fuga simplista e desonesta ..."
"... Na Teologia Clássica aprendemos que Deus esconde uma agenda secreta , induzindo-nos a crer que agimos com liberdade, quando apenas cumprimos um outro plano ainda não revelado e que acontece na eternidade... "
Por conseqüência, qualquer pessoa que não concordar com o articulista partilha de uma perspectiva arcaica, desonesta ou fechada sobre Deus.
Semelhantemente, Gregory Boyd chama aqueles que discordam de sua doutrina de “compartimentalistas”, “fundamentalistas”, “calvinistas”, etc.
Essa prática de rotular pessoas a fim de desviar o enfoque dos debates era uma característica comum dos sofistas gregos, mas que nunca contribui para a elucidação de um assunto teológico.
Segundo Rice, o fato de Deus ser amor implica que “sua relação com o mundo é dinâmica ao invés de estática...
Deus interage com suas criaturas. Ele não apenas as influencia, mas elas também exercem uma influência sobre ele”.
Dessa forma, o conhecimento que Deus possui de suas criaturas também é dinâmico, ou seja, “ele passa a conhecer os eventos na medida em que eles acontecem. Ele aprende algo à medida que o fato é realizado”.
Nessa perspectiva, então, o que se encontra aberto é o futuro e não Deus, pois Deus apenas limitou-se a fim de se relacionar com suas criaturas verdadeiramente livres .
Essa é a mesma ênfase da Teologia Relacional apresentada no Brasil.
O problema maior é que este argumento torna Deus preso ao tempo, pois ele aprende à medida que o futuro é concretizado no presente.
PREMISSAS DA TEOLOGIA RELACIONAL
1. A primeira premissa da Teologia Relacional é sua ênfase na liberdade humana em detrimento da onipotência divina.
2. A concepção do teísmo clássico sobre Deus foi corrompida pela influência do neoplatonismo agostiniano e o verdadeiro conceito bíblico de Deus precisa ser resgatado.
3. Ênfase na imutabilidade de Deus o torna um Ser insensível e impassível diante dos sofrimentos humanos.
4. O relacionamento de Deus com os homens é determinado por seu amor e não por sua soberania.
AS ESPINHAS DO PEIXE CHAMADO TEOLOGIA RELACIONAL
1. “Construir” uma caricatura de Deus que o torna refém das ações humanas e que não representa o Deus que se revela nas Escrituras. Por mais que os seus defensores enfatizem a importância dos relacionamentos, no final é praticamente impossível à Teologia Relacional se livrar de sua negação da onisciência divina. Ao propor uma reinterpretação da pessoa de Deus e uma dependência de suas ações das decisões humanas ela o torna refém de sua própria criação e tal caricatura está distante de fazer justiça ao Deus verdadeiro.
A insistência da Teologia Relacional no fato de que Deus se arrisca em prol de construir um futuro com os seres humanos, rouba Deus de sua glória e os cristãos do conforto de pertencerem àquele para quem “acasos não haverá”.
Dessa forma, a apresentação que a Bíblia faz de Deus como “o Rei das nações” (Ap 15.3), “o Juiz de toda a terra” (Gn 18.25), aquele que faz todas as coisas “segundo o conselho de sua vontade” (Ef 1.11) e assim por diante, fica sem sentido para o cristão. Ao descrever Deus como aquele que não conhece o futuro e que se limita a ponto de não poder fazer nada sem a ação de suas criaturas, o ensino relacional (assim como o teísmo aberto) destrói o conforto do coração do cristão, implantando em seu lugar o desespero.
Ao buscar redefinir “onisciência”, os defensores da Teologia Relacional acabaram criando aquilo que J. B. Philips denunciou em sua obra clássica: um Deus que é pequeno demais. Certamente foi por esta razão que Roger Nicole insistiu que o teísmo aberto (e, por analogia, a Teologia Relacional) transforma Deus em um mero jogador, que arrisca o seu plano e suas criaturas.
2. O segundo problema prático da Teologia Relacional encontra-se no fato de que ela diminui a confiança dos cristãos na Bíblia.
Os defensores do teísmo aberto e da Teologia Relacional acreditam, e até insistem, que sua posição é mais bíblica do que aquela mantida pelo teísmo clássico.
Gregory A. Boyd, por exemplo, afirma: “Se apenas aceitarmos o significado claro das Escrituras entenderemos que algumas vezes Deus se arrepende do resultado de suas decisões”( Não sabem o que é linguagem antropomórfica).
Gondim insiste em selecionar alguns textos bíblicos (pelo menos 40) que mencionam o aparente arrependimento ou frustrações de Deus, bem como alguns que supostamente mostram que Deus está incerto sobre acontecimentos futuros.
Contudo, se uma pessoa adotar esta proposta do “significado claro” das Escrituras, poderá ter sérios problemas ao lidar com um texto como, por exemplo, Gênesis 22.12, usado pelos teístas abertos para dizer que Deus estava testando Abraão para aprender algo que ele realmente não sabia de antemão.
O fato é que se Deus precisava testar Abraão para saber o que estava em seu coração, logo sua ignorância não é apenas acerca do futuro, mas também do presente.
Se Deus estiver tentando descobrir se Abraão será fiel no futuro, segue-se que ele estará interferindo com a suposta liberdade libertária de Abraão.
Dessa forma, a proposta hermenêutica dos revisionistas não passa nem no seu próprio teste. Além do mais, se Deus não conhece o futuro, qual é a garantia que o cristão possui de que as promessas contidas nas Escrituras são verdadeiras? Assim, esse ensino diminui a confiança na Bíblia e em sua autoridade.
3. Em terceiro lugar o ensino da Teologia Relacional é nocivo à esperança escatológica cristã.
Se o futuro será construído pelas decisões de Deus e dos seres humanos, qual é a garantia que o cristão possui de que o plano eterno de Deus será realmente realizado.
Dessa forma, a certeza escatológica torna-se apenas uma possibilidade.
O fato é que ao tentar resolver o problema do mal, a ênfase relacional esvaziou Deus de sua soberania e apontou uma solução mais cruel do que aquela contra a qual se opunha.
Ao enfatizar a “soberania de amor” ao invés da “soberania de controle”, a Teologia Relacional produziu um universo desgovernado e um rei cujo reino, no final, é “administrado apenas de maneira vacilante, pois nem todas as criaturas são recipientes de suas intervenções de misericórdia”.
A grandeza e a soberania de Deus formam o fundamento da esperança cristã (Rm 8.39).
4. Finalmente, a Teologia Relacional traz prejuízos incalculáveis à vida devocional dos cristãos.
A priori, seus defensores argumentavam que esta teologia traria grande contribuição para a vida de oração dos cristãos, pois eles entenderiam o propósito de orar: participarem da construção do futuro com Deus. Além do mais, se a oração supostamente pode mudar os planos de Deus, essa ênfase deveria levar os cristãos a orar com mais intensidade.
Contudo, há que se questionar sobre qual é o verdadeiro propósito de se orar para um Deus que não sabe o que irá acontecer? Além do mais, qual é a garantia que os cristãos possuem de que, de fato, esse Deus poderá responder às suas intercessões?
Talvez os proponentes desse ensino estejam esquecidos da implicação lógica de suas argumentações nesta questão da oração.
O fato é que a Bíblia ensina que o cristão deve ser motivado a orar pela própria onisciência e soberania de Deus (Mt 6.8-9, “porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. Portanto, vós orareis...”). Em outras palavras, a oração é o meio estabelecido pelo Pai para que o filho/filha exercite a comunhão com ele.
CONCLUSÃO
O problema é que os caminhos da heresia nem sempre são percebidos facilmente por aqueles que trilham por eles. Como corretamente afirma Luis Wesley de Souza, “as grandes heresias surgidas ao longo da história do cristianismo não foram aquelas facilmente identificáveis à primeira vista”.111 Por esta razão, debates e controvérsias doutrinárias sempre serão necessários no cristianismo e em defesa da “fé entregue aos santos” (Jd 3)
Neste sentido, os calvinistas foram retratados como aqueles que possuem uma visão da soberania de Deus que o coloca fora do tempo e do espaço, tornando-o autoritário, impassível (sem sentimentos) e distante.( Tenho que sorrir com tanta ignorância sobre o calvinismo ).Um Deus assim mais se parece com um demônio do que com o Deus de amor retratado na Bíblia.
Todavia, os conceitos sobre Deus defendidos tanto pelo Teísmo Aberto quanto pela Teologia Relacional são refutados até mesmo por representantes do arminianismo clássico. O arminianismo clássico nunca negou a onisciência divina. O próprio Jacó Armínio, o fundador do movimento, ensinava: O quarto decreto, salvar certas pessoas em particular e condenar outras, baseia-se na presciência de Deus.( só que presciência não é onisciência não é mesmo....)
A raiz desse erro é encontrada, especificamente, na negação da onisciência divina, baseada em uma objeção lógica que coloca a onisciência na contramão. Como conseqüência, temos o conceito de um Deus que, por não conhecer o futuro pode estar equivocado em suas expectativas e nem sempre sabe os resultados de suas decisões e ações.
Assim, reduzir os debates relacionados aos pressupostos do Teísmo Aberto (ou da Teologia Relacional) ao conflito entre calvinistas/arminianos, ou limitar o teísmo clássico ao calvinismo seria uma imprecisão histórica e uma injustiça para com os cristãos arminianos.
Os assuntos levantados por essa teologia contrariam não apenas os pontos fundamentais da fé reformada, mas algumas doutrinas essenciais defendidas por todos os ramos da igreja cristã.
Assim como ocorre com o teísmo aberto nos Estados Unidos, também aqui no Brasil a Teologia Relacional não é defendida por um grande número de teólogos, mas aqueles que a defendem, ou que por ela demonstram simpatia, são pessoas articuladas e influentes. Logo, os impactos de seus escritos e pronunciamentos no meio evangélico são consideráveis.
Além do mais, o assunto discutido por ela não é periférico, mas diz respeito ao próprio cerne da fé cristã.
Como corretamente argumenta Heber C. Campos: “Se nossas idéias sobre Deus não forem corretas, então todos os outros aspectos de nossa teologia certamente estarão errados”.
Há que se entender ainda que, assim como acontece com o teísmo aberto, também na Teologia Relacional “a teodicéia é a forma motora do movimento”.
Dessa forma, ainda que a discussão tenha sido iniciada no contexto evangélico, é natural esperar que ela se estenda além dos limites protestantes, pois afinal ela propõe uma redefinição do próprio entendimento cristão “clássico” sobre Deus.
Segundo Carson, esse novo ensino “redefine o Deus da Bíblia e da teologia de tal forma que ao final teremos um Deus totalmente diferente”.Tudo isto já representaria uma série suficiente de razões para preocupar também os representantes do protestantismo brasileiro.
Um aspecto importante a ser observado nos escritos dos proponentes da Teologia Relacional é o fato de que, na maioria das vezes, suas argumentações revelam um interesse mais acentuado na persuasão do leitor do que na clareza dos conceitos defendidos.
Algumas palavras até parecem ser propositadamente empregadas de modo a dificultar ao leitor a neutralidade necessária para uma análise abalizada.
Por exemplo, Gondim defende que “quando se discute sobre a relacionalidade de Deus precisamos vencer nossos paradigmas antigos:
"...simplesmente responder a essas questões [o problema do sofrimento] afirmando que tudo estava previsto na providência eterna, ou que é por causa do pecado de Adão, soa como uma fuga simplista e desonesta ..."
"... Na Teologia Clássica aprendemos que Deus esconde uma agenda secreta , induzindo-nos a crer que agimos com liberdade, quando apenas cumprimos um outro plano ainda não revelado e que acontece na eternidade... "
Por conseqüência, qualquer pessoa que não concordar com o articulista partilha de uma perspectiva arcaica, desonesta ou fechada sobre Deus.
Semelhantemente, Gregory Boyd chama aqueles que discordam de sua doutrina de “compartimentalistas”, “fundamentalistas”, “calvinistas”, etc.
Essa prática de rotular pessoas a fim de desviar o enfoque dos debates era uma característica comum dos sofistas gregos, mas que nunca contribui para a elucidação de um assunto teológico.
Segundo Rice, o fato de Deus ser amor implica que “sua relação com o mundo é dinâmica ao invés de estática...
Deus interage com suas criaturas. Ele não apenas as influencia, mas elas também exercem uma influência sobre ele”.
Dessa forma, o conhecimento que Deus possui de suas criaturas também é dinâmico, ou seja, “ele passa a conhecer os eventos na medida em que eles acontecem. Ele aprende algo à medida que o fato é realizado”.
Nessa perspectiva, então, o que se encontra aberto é o futuro e não Deus, pois Deus apenas limitou-se a fim de se relacionar com suas criaturas verdadeiramente livres .
Essa é a mesma ênfase da Teologia Relacional apresentada no Brasil.
O problema maior é que este argumento torna Deus preso ao tempo, pois ele aprende à medida que o futuro é concretizado no presente.
PREMISSAS DA TEOLOGIA RELACIONAL
1. A primeira premissa da Teologia Relacional é sua ênfase na liberdade humana em detrimento da onipotência divina.
2. A concepção do teísmo clássico sobre Deus foi corrompida pela influência do neoplatonismo agostiniano e o verdadeiro conceito bíblico de Deus precisa ser resgatado.
3. Ênfase na imutabilidade de Deus o torna um Ser insensível e impassível diante dos sofrimentos humanos.
4. O relacionamento de Deus com os homens é determinado por seu amor e não por sua soberania.
AS ESPINHAS DO PEIXE CHAMADO TEOLOGIA RELACIONAL
1. “Construir” uma caricatura de Deus que o torna refém das ações humanas e que não representa o Deus que se revela nas Escrituras. Por mais que os seus defensores enfatizem a importância dos relacionamentos, no final é praticamente impossível à Teologia Relacional se livrar de sua negação da onisciência divina. Ao propor uma reinterpretação da pessoa de Deus e uma dependência de suas ações das decisões humanas ela o torna refém de sua própria criação e tal caricatura está distante de fazer justiça ao Deus verdadeiro.
A insistência da Teologia Relacional no fato de que Deus se arrisca em prol de construir um futuro com os seres humanos, rouba Deus de sua glória e os cristãos do conforto de pertencerem àquele para quem “acasos não haverá”.
Dessa forma, a apresentação que a Bíblia faz de Deus como “o Rei das nações” (Ap 15.3), “o Juiz de toda a terra” (Gn 18.25), aquele que faz todas as coisas “segundo o conselho de sua vontade” (Ef 1.11) e assim por diante, fica sem sentido para o cristão. Ao descrever Deus como aquele que não conhece o futuro e que se limita a ponto de não poder fazer nada sem a ação de suas criaturas, o ensino relacional (assim como o teísmo aberto) destrói o conforto do coração do cristão, implantando em seu lugar o desespero.
Ao buscar redefinir “onisciência”, os defensores da Teologia Relacional acabaram criando aquilo que J. B. Philips denunciou em sua obra clássica: um Deus que é pequeno demais. Certamente foi por esta razão que Roger Nicole insistiu que o teísmo aberto (e, por analogia, a Teologia Relacional) transforma Deus em um mero jogador, que arrisca o seu plano e suas criaturas.
2. O segundo problema prático da Teologia Relacional encontra-se no fato de que ela diminui a confiança dos cristãos na Bíblia.
Os defensores do teísmo aberto e da Teologia Relacional acreditam, e até insistem, que sua posição é mais bíblica do que aquela mantida pelo teísmo clássico.
Gregory A. Boyd, por exemplo, afirma: “Se apenas aceitarmos o significado claro das Escrituras entenderemos que algumas vezes Deus se arrepende do resultado de suas decisões”( Não sabem o que é linguagem antropomórfica).
Gondim insiste em selecionar alguns textos bíblicos (pelo menos 40) que mencionam o aparente arrependimento ou frustrações de Deus, bem como alguns que supostamente mostram que Deus está incerto sobre acontecimentos futuros.
Contudo, se uma pessoa adotar esta proposta do “significado claro” das Escrituras, poderá ter sérios problemas ao lidar com um texto como, por exemplo, Gênesis 22.12, usado pelos teístas abertos para dizer que Deus estava testando Abraão para aprender algo que ele realmente não sabia de antemão.
O fato é que se Deus precisava testar Abraão para saber o que estava em seu coração, logo sua ignorância não é apenas acerca do futuro, mas também do presente.
Se Deus estiver tentando descobrir se Abraão será fiel no futuro, segue-se que ele estará interferindo com a suposta liberdade libertária de Abraão.
Dessa forma, a proposta hermenêutica dos revisionistas não passa nem no seu próprio teste. Além do mais, se Deus não conhece o futuro, qual é a garantia que o cristão possui de que as promessas contidas nas Escrituras são verdadeiras? Assim, esse ensino diminui a confiança na Bíblia e em sua autoridade.
3. Em terceiro lugar o ensino da Teologia Relacional é nocivo à esperança escatológica cristã.
Se o futuro será construído pelas decisões de Deus e dos seres humanos, qual é a garantia que o cristão possui de que o plano eterno de Deus será realmente realizado.
Dessa forma, a certeza escatológica torna-se apenas uma possibilidade.
O fato é que ao tentar resolver o problema do mal, a ênfase relacional esvaziou Deus de sua soberania e apontou uma solução mais cruel do que aquela contra a qual se opunha.
Ao enfatizar a “soberania de amor” ao invés da “soberania de controle”, a Teologia Relacional produziu um universo desgovernado e um rei cujo reino, no final, é “administrado apenas de maneira vacilante, pois nem todas as criaturas são recipientes de suas intervenções de misericórdia”.
A grandeza e a soberania de Deus formam o fundamento da esperança cristã (Rm 8.39).
4. Finalmente, a Teologia Relacional traz prejuízos incalculáveis à vida devocional dos cristãos.
A priori, seus defensores argumentavam que esta teologia traria grande contribuição para a vida de oração dos cristãos, pois eles entenderiam o propósito de orar: participarem da construção do futuro com Deus. Além do mais, se a oração supostamente pode mudar os planos de Deus, essa ênfase deveria levar os cristãos a orar com mais intensidade.
Contudo, há que se questionar sobre qual é o verdadeiro propósito de se orar para um Deus que não sabe o que irá acontecer? Além do mais, qual é a garantia que os cristãos possuem de que, de fato, esse Deus poderá responder às suas intercessões?
Talvez os proponentes desse ensino estejam esquecidos da implicação lógica de suas argumentações nesta questão da oração.
O fato é que a Bíblia ensina que o cristão deve ser motivado a orar pela própria onisciência e soberania de Deus (Mt 6.8-9, “porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. Portanto, vós orareis...”). Em outras palavras, a oração é o meio estabelecido pelo Pai para que o filho/filha exercite a comunhão com ele.
CONCLUSÃO
O problema é que os caminhos da heresia nem sempre são percebidos facilmente por aqueles que trilham por eles. Como corretamente afirma Luis Wesley de Souza, “as grandes heresias surgidas ao longo da história do cristianismo não foram aquelas facilmente identificáveis à primeira vista”.111 Por esta razão, debates e controvérsias doutrinárias sempre serão necessários no cristianismo e em defesa da “fé entregue aos santos” (Jd 3)
Nenhum comentário:
Postar um comentário