CRISTOLOGIA
A DOUTRINA DA PESSOA E OBRA DE CRISTO
Há uma relação muito estreita entre a doutrina do homem e a de Cristo.
A primeira trata do
homem, criado à imagem de Deus e dotado de verdadeiro conhecimento, justiça e santidade, mas
que, pela voluntária transgressão da lei de Deus, despojou-se da sua verdadeira humanidade e se
transformou em pecador. Uma criatura que perdeu os seus
direitos de nascimento, sua verdadeira liberdade e justiça originais. Significa que a doutrina dirige
a atenção à sua
pecaminosidade. Salienta a distância ética que há entre Deus e o homem, distância resultante da
queda do homem e que, nem o homem nem os anjos podem cobrir, e, como tal, é virtualmente um
grito pelo socorro divino.
A segunda trata de Cristo,que é em parte a resposta a esse grito. Ela nos põe a par da
obra objetiva de Deus em Cristo construindo uma ponto sobre o abismo e eliminando a distância.
A doutrina nos mostra Deus vindo ao homem para afastar as barreiras entre Deus e o homem
pela satisfação das condições da lei em Cristo, e para restabelecer o homem em Sua bendita
comunhão.E, portanto, a doutrina de Cristo como
Mediador da aliança vem necessariamente seguidamente. Cristo, tipificado e prenunciado no
Velho Testamento como o Redentor do homem, veio na plenitude do tempo, para "tabernacular" entre os homens e levar a efeito uma reconciliação eterna.
Este sim é um assunto para gastarmos tempo discutindo,pois ele é básico na vida cristã,e por ser básico foi alvo de muita polêmica e debate.
A DOUTRINA DE CRISTO ANTES DA REFORMA
1. ATÉ AO CONCÍLIO DE CALCEDÔNIA
Na literatura cristã primitiva Cristo sobressai como
humano e divino, como o Filho do homem, mas também como o Filho de Deus.
Seu caráter sem
pecado é defendido, e Ele é considerado como legítimo objeto de culto.
Naturalmente, o problema
suscitado por Cristo, como ao mesmo tempo Deus e homem, e as dificuldades envolvidas em tal
concepção, não foram plenamente sentidos pela mente cristã dos primeiros tempos, e só
assomaram a ela à luz da controvérsia.
Era simplesmente natural que o judaísmo, com a sua forte
ênfase ao monoteísmo, exercesse considerável influência sobre os primeiros cristãos, de extração judaica:
A) Os ebionistas (ou parte deles) sentiram-se constrangidos, no interesse do monoteísmo, a
negar a divindade de Cristo. Eles O consideravam como simples homem, filho de José e Maria,
qualificado em Seu batismo para ser o Messias, pela descida do Espírito Santo sobre Ele. Havia
outros na Igreja primitiva cuja doutrina sobre Cristo foi elaborada sobre linhas semelhantes.
B)Os álogos, que rejeitavam os escritos de João por que entendiam que a sua
doutrina do Logos está em conflito, com o restante do Novo testamento, também viam em Jesus
apenas um homem ,conquanto miraculosamente nascido de uma virgem, e ensinavam que Cristo
desceu sobre Ele no batismo, conferindo-lhe poderes sobrenaturais.
C)Os monarquistas dinâmicos,ttendo Paulo de Samosata, seu principal representante,
distinguia entre Jesus e o Logos. Ele considerava Aquele como um homem igual a todos os
demais, nascido de Maria, e Este como razão impessoal divina, que fez Sua habitação em Cristo
num sentido preeminente, desde a ocasião do Seu batismo, e assim O qualificou para a Sua
grande tarefa. Em vista dessa negação, fazia parte da função dos primitivos apologetas a defesa
da doutrina da divindade de Cristo.
Se havia alguns que sacrificavam a divindade pela defesa da humanidade de Cristo, havia
outros que invertiam a ordem:
A) Os gnósticos foram profundamente influenciados pela concepção
dualista dos gregos, em que a matéria, entendida como inerentemente má, é descrita como
completamente oposta ao espírito; e por uma tendência mística para considerar as coisas
terrenas como representações alegóricas dos grandes processos redentores cósmicos.
Rejeitavam a idéia de uma encarnação, de uma manifestação de Deus em forma visível, visto que
isto envolveria um contato direto do espírito com a matéria. Diz Harnack que a maioria deles
considerava Cristo como um Espírito consubstancial com o Pai. Conforme alguns, Ele desceu
sobre o homem Jesus quando do Seu batismo, mas O deixou de novo antes da Sua crucificação;
ao passo que, segundo outros, Ele assumiu um corpo meramente fantasmagórico.
B) Os
monarquistas modalistas também negavam a humanidade de Cristo, em parte no interesse da
Sua divindade, e em parte para preservar a unidade do Ser Divino. Viam nele apenas um modo ou
uma manifestação do Deus único, em quem não reconheciam nenhuma distinção de pessoas.
C) Os
chamados pais alexandrinos e antignósticos empreenderam a defesa da divindade de Cristo, mas
em seu trabalho de defesa não evitaram inteiramente o erro de descrevê-lo como subordinado ao
Pai. Mesmo Tertuliano ensinava uma espécie de subordinação, mas especialmente Orígenes, que
não hesitava em falar de uma subordinação quanto à essência. Isto veio a ser um ponto de
partida para o arianismo,
D) Os arianos fazem uma distinção entre Cristo e o Logos como a razão divina, e
Cristo é apresentado como uma criatura pré-temporal, super-humana, a primeira das criaturas,
não Deus e, todavia, mais que homem. Atanásio contestou a Ário e defendeu vigorosamente a
posição de que o Filho é consubstancial com o Pai e da mesma essência do Pai, posição que foi
oficialmente adotada pelo Concilio de Nicéia, em 325. O semi-arianismo propôs uma via media*
,
declarando que a essência do Filho é semelhante à do Pai.
Quando a doutrina da divindade do Filho foi estabelecida oficialmente, surgiu, como é natural,
a questão quanto à relação mutua das duas naturezas de Cristo:
A) Apolinário ofereceu uma solução
ao problema. Aceitando a concepção tricotomia o homem como consistindo de corpo, alma e
espírito, ele tomou a posição de que o Logos assumiu o lugar do espírito (pneuma) no homem,
que ele considerava a sede do pecado. Seu principal interesse era assegurar a unidade da
pessoa de Cristo, sem sacrificar a sua real divindade; e também resguardar a impecabilidade de
Cristo. Mas o fez em detrimento da completa humanidade do Salvador e, conseqüentemente, a
sua posição foi explicitamente condenada pelo Concilio de Constantinopla, em 381. Uma das
coisas pelas quais Apolinário lutava era a unidade da pessoa de Cristo. Que isso realmente corria
perigo viu-se claramente na posição assumida pela escola de Antioquia, que exagerava a
distinção das duas naturezas de Cristo.
B) Theodoro de Mopsuéstia e Nestório acentuavam a
completa humanidade de Cristo e entendiam que a habitação do Logos nele era apenas uma
habitação moral, como a que os crentes também gozam, embora não no mesmo grau. Eles viam
em Cristo um homem lado a lado com Deus, em aliança com Deus, compartindo o propósito de
Deus, mas não unido a Ele numa unidade de vida pessoal única – viam nele um Mediador que
consistia de duas pessoas.
C) Cirilo de Alexandria salientava fortemente a
unidade da pessoa de Cristo e, na opinião dos seus oponentes, negava as duas naturezas.
D) Eutico e os seus
seguidores certamente recorrem a ele quando assumiram a posição de que a natureza humana
de Cristo foi absorvida pela divina, ou que as duas se fundiram resultando numa só natureza,
posição que envolvia a negação das duas naturezas de Cristo. O Concílio de Calcedônia, em 451,
condenou esses dois conceitos e manteve a crença na unidade da pessoa, como também na
dualidade das naturezas.
2. APÓS O CONCILIO DE CALCEDÔNIA
. Por algum tempo o erro eutiquiano continuou com
os monofisitas e monotelitas, mas finalmente foi dominado pela igreja. E o perigo de que a
natureza humana de Cristo fosse considerada como inteiramente impessoal foi afastado por
Leôncio de Bizâncio, quando demonstrou que ela não é impessoal, mas in-pessoal, tendo a sua
subsistência pessoal na pessoa do Filho de Deus.
. João de Damasco, com quem a cristologia do
Oriente alcançou o seu desenvolvimento máximo, acrescentou a idéia de que há uma *circumincessão*( De circum, prep. “em roda de”, “por”, incluindo a idéia de movimento – um para o outro; e de incessum,part. De
incedo, “andar”, “caminhar”, “apoderar-se de”). Termo técnico para designar a intercomunicação e a interrelação das
duas naturezas de Cristo. do divino e do humano em Cristo, uma comunicação dos atributos divinos à natureza
humana, de modo que esta é deificada e também podemos dizer que Deus sofreu na carne.Ele
mostra a tendência de reduzir a natureza humana à posição de mero órgão ou instrumento do
Logos, se bem que admite que há cooperação das duas naturezas, e que a pessoa única exerce
ação e vontade em cada natureza, embora a natureza humana esteja sempre sujeita à divina.
. Na igreja ocidental, Felix, bispo de Urgel, defendeu o adocionismo. Ele considerava Cristo,
quanto à Sua natureza divina, isto é, o Logos, como o unigênito Filho de Deus no sentido natural,
mas considerava Cristo, em Seu lado humano, como um Filho de Deus meramente por adoção.
Felix procurou preservar a unidade da pessoa salientando o fato de que, desde o momento da
Sua concepção, o Filho do homem foi absorvido na unidade da pessoa do Filho de Deus. Fez-se,
assim, distinção entre a filiação natural e a adotiva, e esta não começou com o nascimento natural
de Cristo, mas teve início por ocasião do Seu batismo e se consumou em Sua ressurreição. Foi
um nascimento espiritual que fez de Cristo o Filho adotivo de Deus.
Mais uma vez a igreja viu a
crença na unidade da pessoa de Cristo ameaçada por esse conceito e, portanto, ele foi
condenado pelo Sínodo de Franckfurt, em 794.
A Idade Média acrescentou muito pouca coisa à doutrina da pessoa de Cristo. Devido a várias
influências, como as de ênfase à imitação de Cristo, das teorias sobre a expiação, e do
desenvolvimento da doutrina da missa, a igreja se apegou fortemente à plena humanidade de
Cristo. “A divindade de Cristo”, diz Mackintosh, “passou a ser vista mais como o coeficiente infinito
elevando a ação e a paixão humanas a um valor infinito”.
E, contudo, alguns dos escolásticos
expuseram em sua cristologia um conceito docético de Cristo.
Pedro Lombardo não hesitava em
dizer que, com relação à Sua humanidade, Cristo não era absolutamente nada. Mas este niilismo
foi condenado pela igreja.
Alguns novos pontos foram salientados por Tomaz de Aquino. Segundo
ele, a pessoa do Logos tornou-se composta na encarnação, e Sua união com a natureza humana
“impediu” esta ultima de chegar a ter uma personalidade independente. A natureza humana de
Cristo recebeu dupla graça em virtude de sua união com o Logos:
(a) a gratia unionis (graça da
união), que lhe comunicou uma dignidade especial, de modo que até se tornou objeto de culto
(b) a gratia habitualis (graça habitual), que a mantinha em sua relação com Deus. O conhecimento
humano de Cristo era duplo a saber, um conhecimento infuso e um conhecimento adquirido. Há
duas vontades em Cristo, mas a causalidade última pertence à vontade divina, à qual a vontade
humana está sempre sujeita.
A DOUTRINA DE CRISTO DEPOIS DA REFORMA
1. ATÉ O SÉCULO XIX.
A Reforma não trouxe grandes mudanças à doutrina da
pessoa de Cristo. Tanto a Igreja Romana como as igrejas da reforma subscreveram a doutrina de
Cristo nos termos de sua formulação pelo Concílio de Calcedônia. Suas diferenças importantes e
profundas estão noutras áreas.
A) Há uma peculiaridade da cristologia luterana que merece atenção.
A doutrina de Lutero sobre a presença física de Cristo na ceia do Senhor levou ao conceito
caracteristicamente luterano da communicatio idiomatum (comunicação de propriedades), com o
sentido de “que cada uma das naturezas de Cristo permeia a outra (perichoresis), e que a Sua
humanidade participa dos atributos da Sua divindade”.
Afirma-se que os atributos de onipotência,onisciência e onipresença foram comunicados à natureza humana de Cristo ao tempo da
encarnação. Suscitou-se naturalmente a questão sobre como isto poderia harmonizar-se com o
que sabemos da vida terrena de Jesus.
Esta questão levou a uma diferença de opinião entre os
teólogos luteranos. Alguns afirmam que Cristo pôs de lado os atributos divinos recebidos na
encarnação, ou os usava só ocasionalmente, enquanto outros diziam que Ele continuou de posse
deles durante toda a sua vida terrena, mas os manteve ocultos ou só os usava secretamente.
Alguns luteranos atualmente parecem inclinados a rejeitar esta doutrina.
B) Os teólogos reformados (calvinistas) viam nessa doutrina luterana uma espécie de
eutiquianismo ou de fusão das duas naturezas de Cristo. A teologia reformada também ensina
uma comunicação de atributos, mas a concebe de maneira diferente.
Ela crê que, depois da
encarnação, as propriedades de ambas as naturezas podem ser atribuídas à pessoa única de
Cristo. Pode-se dizer que a pessoa de Cristo é onisciente, mas também, que tem conhecimento
limitado; pode se considerada onipresente, mas também limitada, em qualquer tempo particular, a
um único lugar.
Daí, lemos na Segunda Confissão Helvética: “reconhecemos, pois, que há no
único e mesmo Jesus, nosso Senhor, duas naturezas – a natureza divina e a humana; e dizemos
que estas são ligadas ou unidas de modo tal, que não são absorvidas, confundidas ou misturadas,
mas, antes, são unidas ou conjugadas numa pessoa (sendo que as propriedades de cada uma
delas permanecem a salvo e intactas), de modo que podemos cultuar a um Cristo, nosso Senhor,
e não a dois. Portanto, não pensamos nem ensinamos que a natureza divina em Cristo sofreu, ou
que Cristo, de acordo com a Sua natureza humana, ainda está no mundo e ,assim, em todo
lugar”.
2. NO SÉCULO XIX
No início do século dezenove deu-se grande mudança no
estudo da pessoa de Cristo. Até àquele tempo, o ponto de partida fora predominantemente
teológico, e a cristologia resultante era teocêntrica; mas durante a última parte do século dezoito
houve crescente convicção de que se alcançariam melhores resultados partindo de algo mais
próximo, a saber do estudo do Jesus histórico.
Assim foi introduzido o “segundo período
cristológico”, assim chamado.
O novo ponto de vista era antropológico, e o resultado foi
antropocêntrico. Isto evidenciou-se destrutivo para a fé cristã. Uma distinção de maior alcance e
perniciosa foi feita entre o Jesus histórico, delineado pelos escritores dos evangelhos, e o Cristo
teológico, fruto da fértil imaginação dos pensadores teológicos, e cuja imagem reflete-se agora
nos credos da igreja.
O Cristo sobrenatural abriu alas para um Jesus humano; e a doutrina das
duas naturezas abriu alas para a doutrina de um homem divino.
A) Scheleiermacher esteve à testa do novo desenvolvimento. Ele considerava Cristo como uma
nova criação, na qual a natureza humana é elevada ao nível da perfeição ideal. Todavia,
dificilmente se pode dizer que o seu Cristo se eleva acima do nível humano. A singularidade da Sua pessoa consiste do fato de que Ele possui um perfeito e vívido senso de união com o divino,
e também realiza com plenitude o destino do homem em Seu caráter de perfeição impecável. A
sua suprema dignidade encontra a sua explicação numa presença especial de Deus nele, em Sua
consciência singular de Deus.
B) O conceito que Hegel tinha de Cristo é parte integrante do seu
sistema panteísta de pensamento. O verbo se fez carne significa para ele que Deus se encarnou
na humanidade, de modo que a encarnação expressa realmente a unidade de Deus e o homem.
Ao que parece, a encarnação foi meramente o auge de um processo racial. Enquanto a
humanidade em geral considera Jesus unicamente como um mestre humano, a fé O reconhece
como divino e vê que, por Sua vinda ao mundo, a transcendência de Deus torna-se imanência.
Encontramos aqui uma identificação panteísta do humano e do divino na doutrina de Cristo.
C) Algo disto se vê nas teorias quenósticas, que representam uma notável tentativa de melhorar
a elaboração da doutrina da pessoa de Cristo.
O termo kénosis é derivado de Fp 2.7, que ensina
que Cristo “se esvaziou (ekenosen), assumindo a forma de servo”.
C.1 Os quenosicistas tomam isso
no sentido de que o Logos tornou-se, isto é, transformou-se literalmente num homem, reduzindo-se total ou parcialmente às dimensões de um homem, e depois cresceu em sabedoria e poder, até
que afinal se tornou Deus de novo.
C.2 Essa teoria apareceu em várias formas, das quais a mais
categórica é a de Gess, e por algum tempo gozou considerável popularidade. Propunha-se
manter a realidade e a integridade da humanidade de Cristo, e dar vivo relevo à grandiosidade da
Sua humilhação, na qual Ele, sendo rico, fez-se pobre por nós. Contudo, ela envolve uma
obliteração panteísta da linha de demarcação entre Deus e o homem.
C.3 Dorner, que foi o maior
representante da Escola Mediadora, opôs-se fortemente a esse conceito e o substituiu pela
doutrina de uma encarnação progressiva. Ele via na humanidade de Cristo uma nova humanidade
com especial receptividade para com o divino. O Logos, o princípio de auto-concessão de Deus,
juntou-se a essa humanidade; a medida em que o fez foi determinada em cada estágio pela
sempre crescente receptividade da natureza humana para com o divino, e não alcançou o seu
estágio final até à ressurreição. Mas isto não passa de uma nova e sutil forma de heresia
nestoriana. Resulta num Cristo que consiste de duas pessoas.
C.4 Albrecht Ritschl surge com sua cristologia que tem seu ponto de partida na obra de
Cristo, e não em Sua pessoa. A obra de Cristo determina a dignidade de Sua pessoa. Ele era
mero homem, mas em vista da obra que realizou e do serviço que prestou, acertadamente Lhe
atribuímos os predicados da Divindade. Ritschl rejeita a preexistência, a encarnação e a
concepção virginal de Cristo, visto que isso não acha nenhum ponto de contato na consciência
crente da comunidade cristã. Cristo foi o fundador do reino de Deus, e agora, de algum modo,
induz os homens a ingressarem na comunidade cristã e a terem uma vida motivada pelo amor.
Ele redime o homem por Seu ensino, por Seu exemplo e por Sua única, e, portanto, é digno de ser chamado Deus. Este conceito é virtualmente um restabelecimento da doutrina de Paulo de
Samosata.
CONCLUSÃO
Com base na idéia panteísta moderna da imanência de Deus, a doutrina de Cristo hoje em
dia é muitas vezes exposta de maneira completamente naturalista.
As exposições podem variar
muito, mas geralmente a idéia fundamental é a mesma, a saber, a idéia de uma unidade essencial
de Deus e o homem.
A doutrina das duas naturezas de Cristo desapareceu da teologia moderna e
em seu lugar temos uma identificação panteísta de Deus e o homem.
Essencialmente, todos os
homens são divinos, desde que todos têm em si um elemento divino; e todos são filhos de Deus,
diferindo de Cristo somente em grau.
O ensino moderno acerca de Cristo está baseado na
doutrina da continuidade de Deus e o homem.
E é exatamente contra essa doutrina que Barth e
os que pensam como ele ergueram sua voz. Nalguns círculos atuais há sinais de um retorno à
doutrina das duas naturezas. Em sua obra intitulada, What Is the Faith? (Que é Fé?), Mickelm
confessa que durante muitos anos afirmou confiantemente que atribuição a Cristo de duas
naturezas numa pessoa tinha que ser abandonada, mas agora Vê que isto se firmava num mal entendido.
3.Nomes e Naturezas de Cristo
1.Os Nomes de Cristo
Há especialmente cinco nomes que requerem breve consideração neste ponto. Descrevem
em parte Suas naturezas, em parte Sua posição oficial, e em parte a obra para a qual Ele veio ao
mundo.
A ) O NOME JESUS.
O nome Jesus é a forma grega do hebraico Jehoshua, Joshua, Js. 1.1;
Zc 3.1, ou Jeshua (forma normalmente usada nos livros históricos pós-exílicos), Ed 2.2.
A
derivação deste nome tão comum do Salvador oculta-se na obscuridade.
A opinião geralmente
aceita é que deriva da raiz yasha’, hiphil hostia’, salvar, mas não é fácil explicar como foi que
Jehoshua’tornou-se Jeshua’. Provavelmente Hoshea’, derivado do infinitivo, foi a forma original (cf.
Nm 13.8, 16; Dt 32.44), expressando meramente a idéia de redenção. O yod, que é o sinal do
imperfeito, pode ter sido acrescentado para expressar a certeza da redenção. Isto se harmonizaria
melhor com a interpretação do nome dado em Mt 1.21. Quanto a uma outra derivação, de Jeho
(Jehovah) e shua, socorro .
O nome foi dado a dois bem
conhecidos tipos de Jesus do Velho Testamento.
B) O NOME CRISTO.
Se Jesus é o nome pessoal, Cristo é o nome oficial do Messias. É o
equivalente de Mashiach do Velho Testamento, (de maschach, ungir) e, assim, significa “o
ungido”. Normalmente os reis e os sacerdotes eram ungidos, durante a antiga dispensação, Ex
29.7; Lv 4.3; Jz 9.8; 1 Sm 9.16; 10.1; 2 Sm 19.10. O rei era chamado “o ungido de Jeová”, 1 Sm
24.10.
Somente um exemplo de unção de profeta está registrado, 1 Rs 19.16, mas provavelmente
há referências a isto em Sl 105.15 e Is 61.1. O óleo usado na unção desses oficiais simbolizava o
Espírito de Deus, Is 61.1; Zc 4.1-6, e a unção representava a transferência do Espírito para a
pessoa consagrada, 1 Sm 10.1, 6, 10; 16.13, 14.
A unção era sinal visível de :
(b1) designação para
um ofício;
(b2) estabelecimento de uma relação sagrada e o resultante caráter sacrossanto da
pessoa ungida, 1 Sm 16.13; cf. também 2 Co 1.21, 22.
O Velho testamento se refere à unção do
Senhor em Sl 2.2; 45.7, e o Novo testamento em At 4.27 e 10.38. Referências anteriores acham-se em Sl 2.6 e Pv 8.23, mas hebraístas atuais asseveram que a palavra nasak, empregada nestas
passagens, significa “instalar”, “estabelecer”, e não “ungir”. Mas, mesmo assim, a palavra indica a
realidade da primeira coisa simbolizada pela unção, também Is 11.2; 42.1.
Cristo foi instalado
em Seus ofícios, ou designado para estes, desde a eternidade, mas historicamente a Sua unção
se efetuou quando Ele foi concebido pelo Espírito Santo, Lc 1.35, e quando recebeu o Espírito
Santo, especialmente por ocasião do Seu batismo, Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22; Jo 1.32; 3.34.
Serviu para qualifica-lo para a Sua grande tarefa. Primeiro, o nome “Cristo” foi aplicado ao Senhor como um substantivo comum, com o artigo, mas gradativamente se desenvolveu e se tornou um
nome próprio, sendo então usado sem artigo.
C) O NOME FILHO DO HOMEM.
No Velho Testamento este nome se acha em Sl 8.4; Dn 7.13
e muitas vezes na profecia de Ezequiel. Acha-se também nos apócrifos Enoque 46 e 62 e 2
Esdras 13.
Admite-se geralmente agora que o uso que o Novo testamento faz dele depende da
citada passagem de Daniel, embora naquela profecia a expressão seja apenas uma frase
descritiva, e não ainda um título.
A transição daquela para este deu-se posteriormente e, ao que
parece, já era um fato consumado quando o livro de Enoque foi escrito. Era a maneira mais
comum de Jesus tratar-se a Si próprio.
Ele aplicou o nome a Si mesmo em mais de quarenta
ocasiões, ao passo que os outros evitavam emprega-lo. A única exceção nos evangelhos está em
Jo 12.34, onde o nome aparece numa citação indireta de uma palavra de Jesus; e no restante do
Novo testamento somente Estevão e João o empregam, At 7.56; Ap 1.13; 14.14.
Em sua obra sobre A Auto-revelação de Jesus (The Self-disclosure of Jesus), o dr. Vos divide
as passagens em que ocorre o nome e quatro classes;
(c.1) passagens que se referem claramente
à vinda escatológica do Filho do homem, como, por exemplo, Mt 16.27, 28; Mc 8.38; 13.26, etc. e
paralelas;
(c.2) passagens que falam particularmente dos sofrimentos, morte e (às vezes)
ressurreição de Jesus, como por exemplo, Mt 17.22; 20.18, 19, 28; 12.40, etc. e paralelas.
(c.3)
passagens do quarto evangelho em que o lado super-humano, celestial, e a preexistência de
Jesus são salientados, como, por exemplo, 1.51; 3.13, 14; 6.27, 53, 62; 8.28, e outras.
(c.4) Um
pequeno grupo de passagens nas quais Jesus considera a Sua natureza humana, Mc 2.27, 28; Jo
5.27; 6.27, 51, 62.
É difícil determinar por que Jesus preferiu este nome como forma de auto tratamento. Anteriormente o homem era em geral considerado como um título critico, com o uso
da qual Jesus tencionava velar antes que revelar a Sua messianidade.
Esta explicação foi posta
de lado quando se deu mais atenção ao elemento escatológico dos evangelhos, e ao uso do
nome na literatura apocalíptica dos judeus.
Dalman reviveu a idéia e voltou a considerar o título
como “um ocultamento intencional do caráter messiânico sob um título que afirma a humanidade
de Quem o leva”.
A suposta prova disto acha-se em Mt 16.13; Jo 12.34. mas a prova é duvidosa;
esta última passagem até mostra que o povo entendia messianicamente o nome.
O dr. Vos é de
opinião que provavelmente Jesus preferiu este nome porque ele fica bastante afastado de toda e
qualquer prostituição judaica do ofício messiânico.
Chamando-se a Si próprio Filho do homem,
Jesus infundiu à messianidade o Seu espírito centralizado nas realidades celestiais. E as alturas a
que assim Ele elevou a Sua pessoa e a Sua obra bem podem ter tido algo que ver com a
hesitação dos Seus primeiros seguidores quanto a chamá-lo pelo mais celestial de todos os
títulos.
D) O NOME FILHO DE DEUS.
O nome “Filho de Deus” foi variadamente aplicado no Velho
testamento:
(d.1) ao povo de Israel, Ex. 4.22; Jr 31.9; Os 11.1;
(d.2) a oficiais de Israel, especialmente
ao prometido rei da casa de Davi, 2 Sm 7.14; Sl 89.27;
(d.3) a anjos, Jó 1.6; 2.1; 38.7; Sl 29.1; 89.6;
e
(d.4) a pessoas piedosas em geral, Gn 6.2; Sl 73.15; Pv 14.26.
Em Israel o nome adquiriu
significação teocrática. No Novo Testamento vemos Jesus apropriando-se do nome, e outros
também atribuindo-o a Ele. O nome é aplicado a Jesus em quatro sentidos diferentes, nem
sempre mantidos em distinção na Escritura, mas às vezes combinados. O nome é-lhe aplicado:
d.1.1). No sentido oficial ou messiânico, mais como uma descrição do ofício que da natureza de
Cristo. O Messias pode ser chamado Filho de Deus como herdeiro e representante de Deus. Os
demônios evidentemente entenderam no sentido messiânico o nome quando p aplicaram a Jesus.
Parece ter sido esse também o sentido em Mt 24.36; Mc 13.31. mesmo o nome, como proferido
pela voz, na ocasião do batismo de Jesus e quando da Sua transfiguração. Mt 3.17; 17.5; Mc 1.11;
9.7; Lc 3.22; 9.35, pode ser interpretado desse modo, mas com toda a probabilidade, tem um
sentido mais profundo. Há várias passagens em que o sentido messiânico é combinado com o
sentido trinitário, cf. abaixo, .
d.1.2). No sentido trinitário. Às vezes o nome é utilizado para indicar a divindade essencial de
Cristo. Como tal, ele indica uma filiação preexistente, que transcende absolutamente a vida
humana de Cristo e Sua vocação oficial como o Messias. Acham-se exemplos deste uso em Mt
11.27; 14.28-33; 16.16, e paralelas; 21.33-46, e paralelas; 22.41-46; 26.63, e paralelas. Nalguns
destes casos a idéia de filiação messiânica também entra, mais ou menos. Vemos a filiação
ontológica e a filiação messiânica entrelaçadas também em várias passagens joaninas, nas quais
Jesus dá a entender claramente que Ele é o Filho de Deus, conquanto não use o nome, como em
6.69; 8.16, 18, 23; 10.15, 30; 14.20,etc. Nas epístolas, Cristo é designado muitas vezes como o
Filho de Deus no sentido metafísico, Rm 1.3; 8.3; Gl 4.4; Hb 1.1, e muitas outras passagens. Na
teologia modernista é comum negar-se a filiação metafísica de Cristo.
d.1.3) No sentido natalício. Cristo é também chamado Filho de Deus e virtude do Seu nascimento
sobrenatural. O nome é assim aplicado a Ele na bem conhecida passagem do Evangelho
Segundo Lucas, na qual a origem da Sua natureza humana é atribuída à direta e sobrenatural
paternidade de Deus, a saber, Lc 1.35. O dr. Vos vê indicações deste sentido do nome também é
negado pela teologia modernista, que não crê nem no nascimento virginal nem na concepção
sobrenatural de Cristo.
d.1.4) No sentido ético-religioso. É neste sentido que o nome “filhos de Deus” é aplicado aos
crentes no Novo Testamento. É possível que tenhamos um exemplo da aplicação do nome “Filho
de Deus”a Jesus nesse sentido ético-religioso em Mt 17.24-27. isto depende da questão sobre se
Pedro é aí apresentado também como isento do imposto do templo.
É especialmente neste
sentido que a teologia modernista atribui o nome a Jesus. Ela entende que a filiação de Jesus é
306
unicamente uma filiação ético-religiosa, um tanto elevada, é certo, mas não essencialmente
diferente da dos Seus discípulos.
E) O NOME SENHOR (Kyrios).
O nome “Senhor” é aplicado a Deus na Septuaginta,
(e.1) como
equivalente de Jeová;
(e.2) como tradução de Adonai; e
(e.3) como versão de um título honorífico
aplicado a Deus (principalmente Adon), Js 3.11; Sl 97.5.
No Novo Testamento vemos uma
aplicação tríplice do nome a Cristo, um tanto parecida com a o Velho Testamento,
(e.1.1) como uma
forma polida e respeitosa de tratamento, Mt 8.2; 20.33;
(e.1.2) como expressão de posse e
autoridade, sem nada implicar quanto ao caráter e autoridade divinas de Cristo, Mt 21.3; 24.42; e
(e.1.3) com a máxima conotação de autoridade, expressando um caráter exaltado e, de fato,
praticamente equivalendo ao nome “Deus”, Mc 12.36, 37; Lc 2.11; 3.4; At 2.36; 1 Co 12.3; Fp 2.11.
nalguns casos é difícil determinar a conotação exata do título.
Indubitavelmente, depois da
exaltação de Cristo, o nome era geralmente aplicado a Ele no sentido mais exaltado. Mas, há
exemplos do seu uso mesmo antes da ressurreição, onde evidentemente já se alcançara o valor
especificamente divino do título, como em Mt 7.22; Lc 5.8; Jo 20.28.
Há grande diferença de
opinião entre os estudiosos com respeito à origem e desenvolvimento deste título, em sua
aplicação a Jesus.
A despeito de tudo quanto foi antecipado em contraposição, não há razão para
não acreditar que o uso do termo, quando aplicado a Jesus, tem suas raízes no Velho testamento.
Há um elemento constante na história do conceito em foco, o elemento, de posse com autoridade.
As epistolas de Paulo sugerem a idéia adicional de que se trata de uma autoridade e posse com
base em direitos antecedentemente adquiridos. É duvidoso se este elemento já está presente nos
evangelhos.
AS NATUREZAS DE CRISTO
Desde os primeiros tempos, e mais particularmente desde o Concílio de Calcedônia, a igreja
confessa a doutrina das duas naturezas de Cristo.
O concílio não solucionou o problema
apresentado por uma pessoa que era ao mesmo tempo divina e humana, mas somente procurou
afastar algumas das soluções que tinham sido oferecidas e que eram claramente reconhecidas
como errôneas.
E a igreja aceitou a doutrina das duas naturezas numa pessoa, não porque
tivesse completa compreensão do mistério, mas porque viu claramente nela um mistério revelado
pela palavra de Deus.
Para a igreja ela foi e continuou sendo sempre um artigo de fé, muito acima
da compreensão humana. Não faltaram ataques racionalistas à doutrina, mas a igreja
permaneceu firme na confissão desta verdade, apesar do fato de ser repetidamente declarada
contrária à razão.
Nesta confissão os católicos romanos e os protestantes vão ombro a ombro.
Mas da última parte do século dezoito em diante, esta doutrina tornou-se alvo de persistentes
ataques:
A idade da razão iniciou-se e se declarou que era indigno do homem aceitar, pela
autoridade da escritura, o que era claramente contrário à razão humana. Aquilo que não se
recomendasse a este novo árbitro era simplesmente declarado errôneo.
Filósofos e teólogos tentaram individualmente resolver o problema apresentado por Cristo, para poderem oferecer à
igreja um substituto da doutrina das duas naturezas.
Tomaram o seu ponto de partida no Jesus
humano, e mesmo depois de um século de afanosa pesquisa, viram em Jesus nada mais que um
homem dotado de um elemento divino. Não puderam elevar-se ao reconhecimento dele como seu
Senhor e seu Deus.
Schleiermacher falava de um homem com suprema consciência de Deus
Ritschil, de um homem com o valor de Deus
Wendt, de um homem que estava em continuada e
íntima comunhão de amor com Deus
Beyschlag, de um homem cheio de Deus
Sanday, de um
homem com uma invasão do divino no sub consciente; –
Mas, para eles, Cristo é e continuará
sendo mero homem.
A escola modernista representada por Harnack, a escola escatológica de
Weiss e Schweitzer, e mais recentemente a escola de religiões comparadas, chefiada por Bousset
e Kirsopp Lake, concordam todos em despir Cristo de Sua verdadeira divindade e em reduzi-lo a
dimensões humanas.
Para a primeira, nosso Senhor é apenas um grande mestre de ética
Para a
segunda, um vidente apocalíptico
Para a terceira, um inigualável guia rumo a um destino
exaltado.
Consideram o Cristo da igreja como criação do helenismo, ou do judaísmo, ou de ambos
combinados.
Hoje, porém, toda a epistemologia do século passado é posta em questão, e a
suficiência da razão humana para a interpretação da verdade última é seriamente questionada.
Há uma nova ênfase à revelação. E os teólogos influentes como Barth e Brunner. Edwin Lewis e
Nathaniel Micklem, não hesitam em tornar a confessar sua fé na doutrina das duas naturezas.
É
da máxima importância manter esta doutrina, nos termos em que foi formulada pelo Concílio de
Calcedônia e consta dos nossos padrões confessionais.
1. PROVAS BÍBLICAS DA DIVINDADE DE CRISTO.
Em vista da generalizada negação da
divindade de Cristo, é da máxima importância ser inteiramente versado nas provas bíblicas em
seu favor. As provas são tão abundantes que todos os que aceitam a Bíblia como a infalível
palavra de Deus, não podem ter qualquer dúvida sobre este ponto.
Quanto à classificação comum
das provas bíblicas derivadas dos nomes divinos de Cristo, dos Seus atributos divinos, das Suas
obras divinas e da honra divina a Ele atribuída. Seguimos aqui um arranjo um tanto diferente, em vista da tendência recente
da crítica histórica.
a. No Velho testamento.
Alguns demonstram certa inclinação para negar que o Velho
testamento tenha predições de um Messias divino, mas essa negação é completamente
insustentável em vista de passagens como Sl 2.6-12 (hB 1.5); 45.6, 7 (Hb 1.8, 9); 110.1 (hb 1.13);
Is 9.6; Jr 23.6; Dn 7.13; Mq 5.2; Zc 13.7; Mt 3.1
Vários dos mais recentes especialistas em história
insistem vigorosamente no fato de que a doutrina de um messias super-humano era coisa natural
para o judaísmo pré-cristão. Alguns até acham nisso a explicação da cristologia sobrenatural de
partes do Novo Testamento.
b. Nos escritos de João e Paulo.
Tem-se visto que é impossível negar que tanto João como
Paulo ensinam a divindade de Cristo. No Evangelho segundo João acha-se o mais elevado
conceito da pessoa de Cristo, como se vê nas seguintes passagens: Jo 1.1-3. 14, 18; 2.24, 25;
3.16-18, 35, 36; 4.14, 15; 5.18, 20-22, 25-27; 11.41-44; 20.28; 1 Jo 1.3; 2.23; 4.14, 15; 5.5, 10-13,
20. Um conceito semelhante acha-se nas epistolas paulinas e na Epistola aos Hebreus, Rm 1.7;
9.5; 1 Co 1.1-3; 2.8; 2 Co 5.10; Gl 2.20; 4.4; Fp 2.6; Cl 2.9; 1 Tm 3.16; Hb 1.1-3, 5,8; 4.14; 5.8, etc.
Os eruditos críticos procuram escapar da doutrina claramente ensinada nesses escritos de várias
maneiras, como, por exemplo, negando a historicidade do Evangelho segundo João e a
autenticidade de várias epístolas de Paulo; considerando as exposições de João, Paulo e Hebreus
como interpretações infundadas, no caso de João e Hebreus, especialmente sob a influencia de
seus conceitos judaicos, pré-cristãos; ou atribuindo a Paulo um conceito inferior ao que se acha
em João, a saber, o de Cristo como homem preexistente e divino.
c. Nos Sinóticos.
Alguns sustentam que somente os sinóticos nos dão um retrato verdadeiro
de Cristo. Eles, segundo se diz, retratam o Jesus humano, o verdadeiro Jesus histórico, em
contraste com a descrição idealizada do quarto evangelho. Mas é mais que evidente que o Cristo
dos sinóticos é tão verdadeiramente divino quanto o Cristo de João. Do começo ao fim Ele
sobressai como uma pessoa super-natural, como o Filho do homem e o Filho de Deus. Seu
caráter e Suas obras justificam Sua reivindicação. Notem-se particularmente as seguintes
passagens: Mt 5.17; 9.6; 11.1-6, 27; 14.33; 16.16, 17; 28.18; 25.31-46; Mc 8.38, e outras
passagens similares, bem como as passagens paralelas. A obra do dr. Warfield sobre O Senhor
da Glória (The Lord of Glory) é muito elucidativa sobre este ponto.
d. A consciência própria de Jesus.
Nos últimos anos tem havido a tendência de recorrer à
consciência própria de Jesus e negar que Ele estivesse cônscio de que era o Messias ou Filho de
Deus. Naturalmente, não é possível ter qualquer conhecimento da consciência própria de Jesus, a
não ser por meio de Suas palavras, nos termos em que elas estão registradas nos evangelhos; e
será sempre possível negar que elas expressam corretamente o pensamento de Jesus. Para os
que aceitam o testemunho dos evangelhos, não pode haver dúvida de que Jesus estava
consciente de que era o próprio filho de Deus.
As seguintes passagens atestam isto: Mt 11.27 (Lc
10.22); 21.37, 38 (Mc 12.6; Lc 20.13); 22.41-46 (Mc 13.35-37; Lc 20.41-44); 24.36 (Mc 13.32);
28.19. Algumas destas passagens atestam a consciência messiânica de Jesus; outras, o fato de
que Ele estava cônscio de que era o Filho de Deus no sentido mais elevado, Em Mateus e Lucas
há várias passagens nas quais Ele fala da primeira pessoa da Trindade como “meu Pai”, Mt 7.21;
10.32, 33; 11.27; 12.50; 15.13; 16.17; 18.10, 19, 35; 20.23; 25.34; 26.29, 53; Lc 2.49; 22.29; 24.49.
No evangelho segundo João a consciência que Jesus Tinha de que era o próprio Filho de Deus é
ainda mais palpável em passagens como Jo 3.13; 5.17, 18, 19-27; 6.37-40, 57; 8.34-36; 10.17, 18,
30, 35, 36, e outras passagens mais.
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